quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Lista de possíveis temas para posts do mês passado


Setembro passou voando, já estamos na metade de outubro e eu abandonei um pouco este blog. Entre fazer estágio e pesquisar para meu trabalho de conclusão de curso, sobrou pouco tempo e energia para outras coisas. Mas não deixei de ter várias idéias de assuntos sobre os quais eu poderia escrever. Para não desperdiçá-las, vou publicar uma lista dos possíveis temas para post do mês passado:

- Pessoas famosas que achei ter visto ao longo da minha vida: motivado por eu ter achado que vi o Maurício de Souza no Espaço Unibanco. Tenho vários exemplos. Já achei que vi o Paulo Autran também no Espaço Unibanco, o Maluf saindo da catraca do metrô Consolação, o Fábio Assunção sentado na escada de uma concessionária nos Jardins.

- O estranho efeito de uma tarde de chuva seguida por uma noite fresca de céu estrelado na população de São Paulo: o que aconteceu foi que as pessoas ficaram eufóricas e saíram de casa falando sozinhas, cantando músicas esquisitas e andando de bicicleta de um jeito perigoso na Paulista.

- Meu dia com a Polícia Federal: vocês não imaginam o quanto eles foram gentis e cativantes enquanto colhiam documentos suspeitos do lugar onde faço estágio (e não estou sendo irônica).

- A última sessão com minha psicóloga: talvez eu sinta falta do casal de velhinhos que eu sempre via pela janela no caminho para o consultório. Eles sempre liam o jornal àquela hora da manhã, um em cada sofá, um de frente para o outro. Não sei se vou vê-los novamente. Talvez quando eu for buscar meu dicionário russo-português que ficou com a psico (é uma longa história).).


Espero conseguir voltar a postar regularmente aqui, mesmo estando na reta final para entrega do trabalho de conclusão na faculdade. Isso me apavora um pouco, mas tento agir naturalmente.


Sonhos: Dave McKean fez uma capa de Sendman especialmente para o meu sonho de ontem à noite. Ela mostrava duas ilustrações diferentes se você olhasse a revista na vertical e na horizontal.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

"Gosta de teatro?"


Todos os dias sou assediada na rua por pessoas pedindo doações para ONGs ambientais, querendo vender poesias ou ingressos para teatro, exigindo minha atenção para apresentar projetos sociais e cobrando “uma colaboração, uma ajuda, uma quantia simbólica.”

O problema é a abordagem extremamente invasiva e até hostil que algumas dessas pessoas usam para chamar a atenção dos transeuntes e fazer com que eles se sintam culpados e mesquinhos caso resolvam não “contribuir”.

“Você gosta de teatro?”. O desavisado responde ingenuamente que sim, que gosta de teatro. É o suficiente para que o homem que fez a pergunta tome 15 minutos do tempo do transeunte para descrever todas as inúmeras vantagens da assinatura de um plano mensal que dá direito ao ingresso de todas as peças de teatro do mundo. Não adianta alegar falta de dinheiro ou falta de tempo de ir ao teatro. Não se esqueça de que ele já tinha dito que gostava de teatro, tsc tsc tsc.

Não há meio de sair com dignidade dessa situação. Ou o sujeito compra o plano que está sendo oferecido e sai com cara de idiota porque sabe que não vai conseguir fazer ele valer a pena a não ser que largue o emprego para ver uma média de três peças por dia, ou o sujeito recusa a oferta e o Você-gosta-de-teatro? faz ele se sentir um lixo aculturado egoísta.

Tem um rapaz que está freqüentemente no meu caminho quando volto do trabalho, às vezes com o rosto pintado de palhaço, que apresenta uns guias culturais que ele propõe “dar” para as pessoas em troca da famigerada “contribuição”, não sem antes explicar todos os motivos pelos quais se deve ter dó dele. Ele sempre me aborda com “Olá, menina linda!” e, quando digo que não posso contribuir, resmunga impropérios em voz baixa.

Ah, e tem também o “Você gosta de poesia?”. Quando me mudei para São Paulo, um deles me deu uma folha sulfite com um poema impresso. Eu agradeci a gentileza e continuei andando com o papel na mão – juro que não entendi que ele também estava atrás de uma contribuição. Quando ele me chamou de volta e me informou sobre suas intenções, devolvi o papel e me desculpei por não ter nenhum trocado.

A gente ainda tem que se desculpar e se justificar por não ter dinheiro sobrando. Se essas pessoas precisam ganhar dinheiro, por que não vendem alguma coisa de que as pessoas realmente precisam? Por que não montam uma banca de café-da-manhã? As que eu encontro no meu caminho sempre estão lotadas sem que o responsável por ela precise apelar para a piedade das pessoas que passam na rua.

Esses apeladores já têm mentalidade capitalista quando pedem dinheiro em troca de qualquer coisa que ofereçam. Então por que não levar a lógica do capitalismo até o fim e oferecer um produto para o qual haja demanda?

É claro que isso não se aplica às ONGs e projetos sociais. Esses são chatos pela insistência e por questionar sua falta de dinheiro como se fosse um crime quando você não colabora.

sábado, 6 de setembro de 2008

Aula de francês


Na minha segunda aula de francês do semestre, cheguei superatrasada. Já tinham grupos formados que deveriam discutir alguns temas propostos pela professora. Sentei com o grupo que tinha ficado com o tema “a televisão deixa as pessoas burras”, ou algo assim. Como todos pareciam concordar com a afirmação, eu me propus a defender a televisão. Achei que assim estaria cumprindo meu papel de única estudante de jornalismo do grupo.

Não estava conseguindo raciocinar direito depois de passar os últimos 40 minutos dentro de um ônibus lotado que peguei depois de oito horas de trabalho na assessoria de imprensa de uma universidade cujo reitor tinha acabado de renunciar no dia anterior por causa de denúncias de gastos ilícitos no cartão corporativo.

Mas, vamos lá, vamos defender o potencial sócio-educativo da televisão, vamos defender que pode existir um jornalismo de qualidade na televisão brasileira, vamos provar que a televisão, apesar dos seus defeitos, pode ser um instrumento que unifica a nação e que isso é uma coisa boa.

E quando tudo o que eu falava era recebido com ceticismo pelo grupo, o estudante do primeiro ano de história começa a descrever a única televisão que presta no mundo, que é a da Suíça, onde a “população escolhe a programação a que quer assistir”. Muito democrático. E o melhor de tudo é que tem tudo a ver com a realidade brasileira. Vamos sugerir para o Sílvio Santos.

Então eu me pego defendendo que a televisão é uma fonte de entretenimento válida para muita gente. As novelas, por exemplo: não é porque somos universitários esnobes e inteligentes demais para acompanhar a novela que vamos negar que ela traz à tona assuntos de importância social sobre os quais algumas pessoas não parariam para refletir de outra forma.

Eu, que nem vejo TV direito, comecei a me exaltar em sua defesa enquanto o resto do grupo insistia em ignorar sua relevância para o povão. E o estudante de psicologia assistia a tudo em silêncio com uma expressão de triunfo esquisita no rosto, como quem nomeia mentalmente os complexos dos outros. Da próxima vez, faço grupo com os meninos da Poli.

O tema jornalismo, pelo jeito, vai ser recorrente durante o semestre do francês e em todos esses mini-debates vão esperar que eu tenha alguma coisa a mais para falar só porque faço jornalismo.
Por fim, quando a aula estava um saco e todas as minhas articulações doíam mais do que o normal (porque tinha feito aula de body combat no dia anterior), um morcego entrou e saiu da sala de aula duas vezes e aquilo foi a única coisa engraçada que aconteceu naquelas duas horas e meia.

domingo, 31 de agosto de 2008

Shuffle

Tenho o péssimo hábito de ouvir sempre as mesmas músicas. Das mais de mil tenho armazenadas no meu computador, devo ouvir com freqüência no máximo umas cem. Não posso definir esse comportamento de outra forma que não como pura preguiça de ouvir coisas novas. Aí enjôo de tudo e passo um tempo no silêncio. Às vezes faz bem.

Agora decidi que vou variar mais a minha playlist. O primeiro passo foi zerar meu mp3 player, enchê-lo com novas músicas e usar o modo shuffle. Engraçado, não sinto muita falta dos cds. Eles são caros, ocupam espaço e sempre estão em caixinhas trocadas. Além do mais, você pode baixá-los inteiros da internet, ver as letras e tudo mais.

Atualmente tenho no meu mp3: Aimee Mann (o último cd @#%&*! Smilers), Keren Ann, Charlotte Gainsbourg, Lilly Allen, Radiohead, The Cardigans, Vive la Fête (acho que baixei junto umas músicas folclóricas francesas reunidas num disco chamado Vive la Fête), a trilha sonora de Juno e de Before Sunset / Before Sunrise.

Não, eu não tenho um i-pod de 80 gigas e nem sei o que faria com tanto espaço. Nem incluindo toda a discografia das principais bandas do movimento punk islandês dos anos 70. Aliás uma vez li um livro do Fábio Massari que falava sobre uma viagem que ele fez para a Islândia unicamente para investigar a música do país. Estranho ler coisas tão específicas sobre músicas que nunca escutei. Não consegui baixar mais de duas músicas de bandas citadas no livro. Alguns nomes não apareciam nem no google (ok, devo estar exagerando).

É como o protagonista de Em busca do tempo perdido, que amava o teatro e dedicava todas as conversas com os colegas à discussão de qual seriam os melhores atores da época. Ele tinha na ponta da língua os nomes dos cinco melhores atores em sua opinião de quem nunca tinha ido a uma peça de teatro:

Naquela época eu tinha o amor do teatro, amor platônico, pois meus pais ainda não me haviam deixado ir, e imaginava de modo tão pouco exato os prazeres que lá se experimentavam que não estava longe de crer que cada espectador olhava, como por um estereoscópio, um cenário que era unicamente para ele,embora igual aos outros mil que se ofereciam, uma cada qual, ao resto dos espectadores.

Mas, voltando à música, fica a questão: o que ouvir? Tenho sempre uma ansiedade por conhecer todas essas bandas novas de quem os críticos de música pop falam. Mas não dá pra escutar tudo e muitas delas fazem exatamente o que as outras estão fazendo. Acho que estou sempre em busca de uma música que me faça chegar em outro lugar, que não sirva somente como fonte de distração enquanto limpo a casa ou abro o e-mail (embora esse tipo de música também seja importante), mas que demande atenção exclusiva e que confira certa grandeza àquele momento. Ultimamente, tem sido difícil achar essa qualidade nas músicas que surgem. Ou talvez eu esteja pouco receptiva a elas no momento.


* Este post foi escrito ao som de: Aimee Mann – 31 Today

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Subtítulos


Depois de falar mal das traduções de nomes de filmes, me sinto no dever de chamar a atenção das pessoas para os subtítulos dos filmes – sejam eles da versão original ou exclusivos da versão brasileira.

Um deles me trouxe problemas na última vez que fui alugar um filme. Com a intenção de alugar Hannibal, aluguei Hannibal – a origem do mal. Não foi minha culpa, o subtítulo estava escrito em letras minúsculas e eu só fui perceber o equívoco quando o filme tinha terminado. Ele está, sem medo de errar, entre os dez piores filmes que eu já vi em toda a minha vida. Vale a pena assistir só para dar valor aos outros filmes.

Tenho que reconhecer que às vezes escolhem um subtítulo estiloso, que dá até um charme, tipo Alien – O oitavo passageiro. Mas outros são de doer. Geralmente tentam explicar ou mostrar alguma coisa a mais sobre o filme, mas, na maioria das vezes, eles acabam sendo óbvios demais ou não combinam em nada com a proposta.

Pulp Fiction – Tempo de violência. Pulp Fiction era o título perfeito! Aí acrescentaram Tempo de violência, que é sério demais para um filme que não se leva a sério; chega a ser um pouco moralista.

2046 – Os segredos do amor. Vocês já viram esse filme? Se eu fosse responsável pelo lançamento no Brasil, não me arriscaria a acrescentar nada ao título, simplesmente porque não entendi a história direito. Esse subtítulo pode levar algum romântico desavisado ao cinema. Pensando bem, talvez seja exatamente essa a intenção.

Eurotrip – Passaporte para a confusão. Parece nome de filme da sessão da tarde
, mas essa é uma das melhores comédias teen que eu já vi. O hit Scotty doesn’t know virou um clássico.

Spellbound – Quando fala o coração. Pensando bem, 80% dos filmes poderiam ter esse subtítulo. Titanic – Quando fala o coração, O Guarda-costas – Quando fala o coração, Star Wars – Quando fala o coração, Rocky Balboa – Quando fala o coração... Mas não se deixe enganar: Spellbound é um filme do Hitchcock de 1945 que, apesar de não ser muito comentado, é um dos meus preferidos. Ele tem uma seqüência de sonho idealizada por ninguém menos que Salvador Dali.

Alguns subtítulos bregas entram em perfeita harmonia com o filme. É o caso de Ghost – Do outro lado da vida e Moulin Rouge – Amor em vermelho. Portanto, não tenho nada a dizer a respeito deles.

Porcos e diamantes são dois substantivos bem improváveis de se usar na mesma frase, mas até que ficou legal como subtítulo de Snatch – Porcos e diamantes. Outros exemplos de subtítulos desnecessários: Trainspotting – Sem limites, Seven – Os sete crimes capitais e Closer – Perto demais.

Ainda sobre traduções
Philip Roth, escritor estadunidense, declarou em entrevista para a Folha de S.Paulo ser admirador de Machado de Assis e, principalmente, de Memórias Póstumas de Brás Cubas que foi lançado lá como Epitaph of a small winner (ou seja, “epitáfio para um pequeno vencedor”). Sobre a tradução do título, ele declara: “Eu não sei de onde vem isso, mas é idiota, deve ser um nome de puro marketing”. Só para lembrar que existem traduções ruins em todo lugar.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

3x4


É horrível, mas, de vez em quando, todo mundo precisa tirar fotos 3x4. E elas ficam cada vez piores... Na minha modesta opinião, o surgimento da fotografia digital permitiu que pessoas sem a mínima qualificação oferecessem serviços desse tipo, fotografando em estabelecimentos que não tem nem mesmo uma iluminação adequada.

Mas não tem problema. Agora, o photoshop resolve tudo. Hoje fui tirar as temidas 3x4 e, ao ver o resultado no computador, perguntei (brincando!) se o rapaz que me atendeu não poderia apagar as minhas espinhas. Ao que ele respondeu – “Pois não” – e começou a fazer o serviço sujo no photoshop.

Não sabia que esse procedimento era assim tão corriqueiro. Se até a minha reles 3x4 recebeu esse tratamento, imagine as barbaridades que eles fazem nas revistas! De alguma maneira, sinto que as minhas fotos 3x4 nunca mais serão as mesmas. Ou será que esse processo é reversível?

* Na foto, uma amostra da minha coleção de fotos 3x4



quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Lynch vem a São Paulo


Semana passada o David Lynch esteve em São Paulo para promover o lançamento de seu livro sobre a importância da meditação em sua vida. Falando assim, ele fica parecendo mais um oportunista que escreve um livro de auto-ajuda qualquer só para ganhar dinheiro em cima de pessoas inseguras. Mas, apesar de não ter lido o livro, acho que não é o caso: é o David Lynch.

Fiquei muito decepcionada quando descobri que não poderia conhecê-lo pessoalmente, já que ele esteve na Livraria Cultura bem no meio da tarde, horário em que estava trabalhando. Mas resolvi fazer uma homenagem mental a ele, recapitulando todos os seus filmes a que já assisti. E, para a minha surpresa, só assisti a três deles: Veludo azul, Cidade dos sonhos e Twin Peaks – Os últimos dias de Laura Palmer, nesta ordem exatamente.

Os dois primeiros me marcaram bastante, acho que é por isso que tinha a impressão de conhecer toda a filmografia de David Lynch. Cidade dos sonhos eu vi na faculdade, na disciplina de Lógica (ironicamente). Não entendi nada da história a princípio... Mesmo assim, o filme me prendeu do começo ao fim. É um daqueles filmes em que você não tem idéia do que vem em seguida e que, quando termina, você fica perplexo por alguns minutos vendo os créditos subirem sem saber muito bem o que fazer. E, dias depois, você ainda se pega pensando nele, tentando decifrar o que significou aquilo tudo.

Veludo azul não é menos intrigante. Numa das primeiras cenas, o protagonista encontra uma orelha humana no chão de um terreno baldio por onde passa para cortar caminho. A partir daí ele se envolve numa investigação que vai levá-lo a presenciar situações bizarras e inimagináveis.

Devo aproveitar o assunto David Lynch para falar sobre um assunto que sempre me incomodou bastante: traduções de nomes de filmes. Observe os nomes, em português, de dois grandes filmes do diretor: Cidade dos sonhos e Império dos sonhos (os originais são, respectivamente, Mulholand Dr. e Inland Empire). Aposto que o David não ficou sabendo dessa calamidade. No caso de Cidade dos sonhos, o “sonho” do título adianta ao expectador um aspecto do filme que deveria ser conhecido apenas no decorrer da história, ou seja, o próprio título é um spoiler.

Semana passada, assisti a Medos privados em lugares públicos, cujo título no original em francês é Coeurs. Quem são essas pessoas que tem o direito de usar toda a criatividade para traduzir esses nomes sem a mínima consideração pelo título original nem pelo enredo do filme?

Mais um caso emblemático. O filme Asas do desejo, do Wim Wenders, no original é Der Himmel über Berlin (que significa “o céu sobre Berlim”). Depois, Wim Wender fez um filme chamado Lisbon Story, que foi traduzido como – adivinhem! – O céu de Lisboa, acho que pra compensar o outro céu que eles não tinham mencionado.

E eu poderia continuar citando títulos mal traduzidos, exemplos não faltam... Deixo aqui meu pequeno protesto.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Monsieur Proust


Ontem recomecei a ler No caminho de Swann, o primeiro volume de Em busca do tempo perdido. Eu tinha lido uma página há algumas semanas e, na minha cabeça, confundi esse trecho com o começo de um outro livro que li na Livraria Cultura sobre a vida de Marcel Proust, escrito pela governanta que o acompanhou durante sua vida inteira.

Quando comecei a ler de novo, a história que eu li era diferente daquela que eu esperava retomar. Mas não decepcionou de maneira alguma. Acho até que a minha hesitação em ler o livro se devia à lembrança de um Proust angustiado tentando terminar um texto no prazo, que foi o que eu li no outro.

No caminho de Swann começa com a descrição de um estado intermediário entre o sono e a consciência que acomete o narrador toda vez que ele acorda no meio da noite e não sabe dizer em que quarto está dormindo, entre todos os quartos onde ele já dormiu ao longo da vida.

Influência do livro ou não, acordei no meio da noite e tive meus cinco segundos de desorientação no qual fiquei imaginando, como o personagem, os móveis em volta da minha cama deslizarem assumindo a posição que eles tiveram nos quartos que já conheci.

Em outra ocasião, já tive uma experiência em que fui influenciada por uma história em quadrinhos que lia antes de dormir. Na história, o personagem principal passa a sonhar com o mundo imaginário formado por seus próprios brinquedos que ele criou na infância e abandonou quando deixou de ser criança.

Esse universo abandonado durante tantos anos passou a ser palco de uma guerra horripilante entre os brinquedos. E é essa situação que ele presencia em seus sonhos e que começa a interferir em sua vida real. Em determinado ponto da história, ele não sabe mais quando está sonhando ou quando está acordado. Parece bobo, mas é perturbador.

Depois de começar a ler esse livro, acordei logo depois de cair no sono e olhei tudo ao meu redor com muita desconfiança, achando que eu própria era o personagem que tem o sono e a vida atormentados pelos brinquedos que abandonou.

Voltando ao caminho de Swann, quando terminar de ler, escrevo minhas impressões sobre ele.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Coloque o livro de volta na prateleira


No último post mencionei o Belle & Sebastian, que é uma das minhas bandas preferidas. Por que gosto de B&S? Porque consigo me identificar absurdamente com as letras das músicas? Porque elas fazem com que eu não me sinta tão mal por me sentir de determinada forma? Por causa das melodias bonitinhas que fazem uma estranha harmonia com as letras melancólicas? Porque a voz do Stuart Murdoch remete a uma pureza que a maioria das pessoas já perdeu?

Por todos esses motivos, talvez. Mas me lembrei do Belle & Sebastian hoje porque ganhei de aniversário um livro em que vários artistas interpretam músicas da banda no formato de histórias em quadrinhos. Put the book back on the shelf é o nome da música que inspira o título do livro.

Algumas letras são reproduzidas integralmente, outras histórias não mencionam nenhum verso, apenas o enredo e os personagens das músicas. O livro é lindo, mas esse formato – cada música é uma história – impede o que poderia ser uma grande narrativa envolvendo personagens recorrentes nas letras da banda.

Lisa, por exemplo. A letra de She’s losing it não fala muito sobre ela, mas sobre Chelsea, a garota com quem ela tem, possivelmente, uma experiência homossexual: Who needs boys when there’s Lisa around?. Já em Like Dylan in the movies, ela parece ter superado aquela fase: Lisa’s kissing men like a long walk home. Em The model, Lisa tenta fechar os olhos para o fato de ela ter sido uma menina má e encontra alguém que faz a mesma coisa:


Cause Lisa learned a lot from putting on a blindfold
When she knew she had been bad
She met another blind kid at a fancy dress
It was the best sex she ever had

Finalmente, em Beautiful, Lisa é uma garota consumida de maneira quase irreversível pelo tédio. Mas ninguém tem idéia do que está acontecendo na vida dela, ninguém sabe que ela tem problemas porque ela é linda e parece uma rainha – They let Lisa go blind, she’s looking like a queen but if you knew what´s going on in her life...

O que terá acontecido com Lisa? Gostaria de ler a história dela. Outros personagens recorrentes são Anthony e Judy, mas conto a história deles em outro post.

Em tempo: Belle & Sebastian não é uma dupla composta por pessoas chamadas Belle e Sebastian (como eu mesma achava no começo).

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Little Nemo


Acabei não contando como, de fato, escolhi um nome para o blog. Confesso que não fiz isso sozinha, títulos nunca foram o meu forte... Depois de um longo e cansativo trabalho de imersão no tema, cheguei a algumas opções de nomes (todos, basicamente, alusões a nomes de filmes ou de músicas) entre elas:
  • Disk Mari para matar

  • If you're feeling Mari (Esse é muito bom! Inspirado na música If you're feeling sinister, do B&S)

  • White collar girl

  • Fake plastic Mari

  • Muffing

  • … e Little Mari in Slumberland

Little Nemo in Slumberland é uma tira de quadrinhos que foi publicada nos EUA entre 1905 e 1913. Winsor McCay criou um personagem, o pequeno Nemo, cujas aventuras oníricas eram publicadas semanalmente no New York Herald, a princípio, e em outros jornais do grupo de William Hearst num segundo momento.

Nos sonhos, o objetivo de Nemo era sempre o mesmo: chegar a Slumberland para brincar com a princesa, filha do rei Morpheus. Mas ele sempre acaba as histórias acordando assustado em seu próprio quarto. Ouvi falar sobre ele pela primeira vez numa aula de editoração de história em quadrinhos que fiz na ECA.

De novo um nome para meu blog que tem alguma coisa a ver com sonhos. Talvez isso prove que ele não pretende ser nada jornalístico, ou talvez não signifique muita coisa...


No trabalho
A acústica da sala onde estou trabalhando é bem peculiar. De vez em quando a gente escuta umas coisas muito estranhas como se elas estivessem acontecendo aqui dentro. Sabe quando você não identifica se as pessoas estão conversando animadamente ou se estão brigando de verdade? Todo esse agito na sala que tem a despretensiosa plaquinha de "Auditoria Interna".


A foto foi tirada no parque Island of Adventures do Universal Studios, Orlando-FL

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Como nomear um blog


Quando resolvi fazer um blog para contar minhas experiências de viagem, quis arranjar um nome realmente legal para ele.

Esta não é minha primeira incursão nesse ramo. Já tive um blog chamado Prelúdios e Noturnos que, infelizmente, abandonei por falta de tempo ou inspiração. Prelúdios e Noturnos é o título da primeira série do Sandman – história em quadrinhos do Neil Gaiman (aliás, ele esteve na FLIP este ano). Não tem uma explicação exatamente lógica para eu ter posto esse nome no meu blog, mas ficou perfeito para o efeito que queria causar.

Desta vez, no entanto, estava vazia de idéias. Então resolvi mergulhar no meu passado para ver se encontrava alguma coisa de interessante que me servisse de inspiração. A solução foi abrir a gaveta de chaves que ficara trancada durante anos no meu guarda-roupa.

Eu tinha o costume de guardar a chave numa abertura minúscula embaixo da própria gaveta. Mas, uma vez, joguei com força demais e ela foi mais longe do que as minhas mãos podiam alcançar. E assim fui privada do acesso aos meus próprios segredos mais íntimos.

Com o arame de um cabide desmontado, consegui puxar a chave. A operação toda durou umas duas horas, haja paciência. Na minha gaveta de chave você pode encontrar, entre outros ítens:

- Agendas 1998, 1999, 2000

- Carta de uma amiga chamada Soraya, datada de 18 de dezembro de 2001 (trata-se do ítem mais recente, o que me faz acreditar que o incidente com a chave aconteceu no fim de 2001)

- Bilhete de uma amiga chamada Nathália agradecendo por eu ter emprestado uma apostila de história

- Cartão de aniversário musical de 1999 enviado pela Nathália (ainda toca!)

- Recortes de revistas:
  • Foto da Alanis Morissette tocando guitarra

  • Matéria da Veja sobre o jogo Tomb Raider - “A gata de silício: heroína de jogo para computador vira musa mundial, faz videoclipe e canta com U2” – 25/06/1997

  • Miniposter do Arquivo-X

  • Miniposter do U2

- Revista Sci-fi News de dezembro de 1999 (a capa é sobre Matrix)

- Foto da minha viagem para a Disney, de 1996, na qual eu não apareço

- Panfleto de turismo de New Orleans

- Bilhete não assinado contendo fofocas da vizinhança

- Papeizinhos coloridos

- Um adesivo em formato de coração

- Adesivos em formato de dinossauros

- Um clips de plástico gigante

- Uma latinha linda com um mini-sabonete dentro (ainda tem um perfume suave)

Não entendi o significado do que está desenhado na madeira da gaveta, mas é esse o tipo de coisa que dá um nome legal para um blog. Algo que aparentemente não tem sentido e que no fundo não tem mesmo, mas as pessoas acham que deve ter.

Fiquei tão entretida com a gaveta que criar um nome para o blog ficou para outra hora. É engraçado como a pessoa vai esquecendo as personalidades que já teve e as coisas de que já gostou se não tem nenhum objeto que a faça lembrar.

O desenho da tampa da latinha do sabonete mostra uma mulher com ares de aristocrata sendo servida por uma escrava. Na minha interpretação, ela é a Cleópatra.

El suave jabón Heno de Pravia te facilita este detalle para guardar tus cosas más pequeñas


The Heno de Pravia toilet soap offers you this beautiful printed box to keep your smallest things.


Perfumeria Gal, s. a. Goya 12


Madrid – Made in Spain

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Na estrada


Depois que voltei de viagem, tive tempo para ler On the road, do Jack Kerouac. Sempre via esse livro nas bancas e sabia que era a bíblia da geração beat e que talvez fosse interessante ler, em termos de cultura geral. Mas sempre tive uma relutância que só posso explicar da seguinte forma: um livro daquela grossura que conta sobre uma viagem só pode ser enfadonho. Ademais, nunca entendi muito bem o que foi essa geração beat. Lembro que, no primeiro ano de faculdade, uma professora citou esse termo e minha amiga perguntou o que significava. Confesso que não me lembro de como ela explicou, mas ficou na minha mente a imagem de poetas pessimistas e maltrapilhos vestidos de preto, envoltos por uma atmosfera densa composta por acordes de jazz e fumaça de cigarro.

Enfim, eu estava errada quanto ao livro: ele não é nada enfadonho. Mas, ao ler On the road, você corre sério risco de começar a achar a sua vida um tédio total. Os personagens vivem, acima de tudo, com intensidade. Lançam-se em aventuras malucas todos os dias sem se importar com nada nem ninguém. São um pouco egoístas até... Mas como se divertem! Acabam em situações as mais improváveis e conhecem pessoas de tudo quanto é tipo. Não se preocupam com o futuro e não se importam de não fazer absolutamente nada do que a sociedade considera como “util” ou “construtivo”. Que inveja, como podem fazer tudo isso e ainda sair impunes?

É verdade que Kerouac não idealiza essa vida. Em muitos momentos, seu personagem, Sal Paradise, é acometido por tédios e tristezas como acontece com qualquer outro mortal que caminha pela vida nos trilhos da normalidade:

“Fui à casa da namorada de Eddie recuperar minha camisa de flanela xadrez, aquela de Shelton, Nebraska. Ela estava lá, toda abotoada, toda a imensa tristeza de uma camisa.”

“Tão chato assim. Foi uma noite melancólica. Eu me sentia como que num sonho desprezível, cercado por irmãos e irmãs, todos estranhos.”

“Ela se virou, entediada. Ficamos deitados de costas, olhando para o forro e refletindo sobre o que Deus deveria estar pensando quando fez a vida ser tão triste assim.”

Considerando que Sal Paradise é Jack Kerouac, também não é certo dizer que ele saiu incólume da sua longa viagem de loucuras. Eduardo Bueno escreve no prefácio do livro que Karouac “morreu em 1969, depois de anos sentado no sofá vendo programas de auditório na TV da casa de sua mãe (com quem morou a vida inteira), barrigudo, alcoólatra e reacionário, afastado de seus companheiros da geração beat, odiando cada cabeludo americano e se perguntando o que, afinal, havia de errado com On the road”.

Será que cada um recebe ao nascer uma cota de intensidade que deve ser usada ao longo da vida inteira e alguns escolhem gastar tudo de uma vez e outros preferem guardar um pouco pro final? Será que uma juventude completamente hedonista e irresponsável tem necessariamente que acabar recebendo essa espécie de punição, como aconteceu com Kerouac?

Na cadeia
Falando em punição: como é que a Amy Winehouse consegue a façanha de ser presa tantas vezes em tão pouco tempo? Tudo bem, ela usa drogas. Mas o Keith Richards também, e você não ouve falar que ele foi preso. Aliás, taí um que saiu impune de uma vida de excessos.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Passageiros da classe sub-turística


Estive incluída nessa categoria de passageiros numa viagem de Orlando a Fort Lauderdale em março deste ano. Mas antes, um preâmbulo: nos EUA existe uma única empresa de ônibus que atua por todo o país, a Greyhound. Os veículos em si não são muito diferentes daqueles que costumo usar aqui no Brasil no meu trajeto São Paulo – Ourinhos: meio apertados, meio desconfortáveis, não muito limpos, mas fazer o quê? O grande diferencial dos Greyhounds são seus passageiros.

Bem atrás de nós (estávamos eu e dois amigos brasileiros – a Carla e o Leandro), sentaram-se dois casais estranhíssimos. Era difícil decidir se eles pareciam ter acabado de sair de uma penitenciária ou de um sanatório. Uma das mulheres tinha marcas de cortes nos braços que eram sistemáticas demais para serem conseqüência de um acidente. Seus olhos vidrados denunciavam que ela mesma tinha se cortado. A outra mulher era quase um homenzinho e seus companheiros eram velhos gordos e usavam chapéus. Todos falavam alto, davam risadas exageradas e pareciam personagens de algum filme trash, moradores de trailers de algum semi-deserto dos EUA e criminosos em potencial. É sério: nunca vi pessoas tão feias em toda a minha vida.

Do meu lado estava uma velhinha canadense muito simpática. Logo que me sentei ao seu lado, ela contou que estava indo a Fort Lauderdale para visitar sua irmã, que, no dia seguinte, faria 90 anos. Ela me contou exatamente a mesma história depois que acordou de um cochilo de meia hora. Fiquei calculando quantas vezes eu teria que fingir surpresa ao ouvir as mesmas coisas ao longo do percurso de cinco horas até Fort Lauderdale. Mas durante o resto da viagem ela pareceu bem lúcida e manteve uma conversa coerente comigo e com meus amigos.

Ela, afinal, tinha toda a razão de se confundir um pouco: estava viajando de ônibus há dois dias, desde Toronto, Canadá. Fiquei imaginando ao lado de quantas pessoas ela já havia se sentado desde então e para quantas pessoas ela já tinha contado suas histórias tristes: ela costumava vir para a Flórida com o marido todos os anos durante o inverno. Mas agora já fazia 15 anos que não vinha: da última vez, o marido foi dormir uma noite na casa de veraneio e não acordou mais. Também contou da filha, de 60 anos, que trabalha atendendo os telefonemas do 911, o serviço de emergência dos EUA. Finalmente, manifestou sua apreensão com relação à irmã: não sabia se ela ainda dirigia bem o suficiente para ir buscá-la na rodoviária (com 90 anos, imaginei que não).

Chegando à Fort Lauderdale, não tive a oportunidade de conhecer a nonagenária, que confundiu a data e achou que a irmã chegaria no dia seguinte. Nossa amiga teve que tomar um táxi. Quanto a nós, ficamos esperando a tia da Carla (na verdade, tia da mãe dela), que ela mesmo nunca tinha visto. A gente ficava olhando despretenciosamente para cada carro que estacionava, tentando identificar traços brasileiros nas senhoras que dirigiam. Finalmente fomos apanhados e nos sentimos em casa no percurso até Boca Raton, passando pela beira da praia e por condomínios luxuosos.

*Foto: eu, Leandro e Carla na rodoviária de Fort Lauderdale. Essa quarta pessoa ao fundo é um dos passageiros do ônibus

sexta-feira, 2 de maio de 2008

"Dia mágico"


Essa expressão, cunhada por um amigo logo no primeiro ano de faculdade, aplica-se aos dias que começam muito bem, quando você está rodeado por seus melhores amigos conversando e rindo, e, de repente, depois de algum descuido qualquer, você se vê sentado no ponto de ônibus sozinho numa noite fria, escura e chuvosa. Pensamos até em escrever uma tese de mestrado sobre o tema, já que o “dia mágico” parecia ser um acontecimento recorrente na ECA. O título seria algo como “O dia mágico e a pós-modernidade”, ou “O dia mágico e a transubjetividade da comunicação”. Acabamos não levando o projeto adiante, mas os dias mágicos continuam se repetindo em nossas vidas.

O último de que me lembro aconteceu quando fui com alguns amigos conhecer Daytona Beach. Foi num dos meus últimos dias na Flórida. Fazia sol, era um dia de praia perfeito. Num dos carros fomos eu, a Roberta (minha amiga brasileira) e dois amigos russos que conhecemos no hotel, o Anton e o Valério. Anton era o mais engraçado e, talvez, o mais normal dos russos. Valério era o mais... hm... peculiar: excessivamente grande e branco, muito parecido com o que eu imagino ser um Neanderthal. Toda vez que se apresentava, enfatizava a última vogal de seu nome: ValériÔ (em russo, o “o” átono é pronunciado como “a”, portanto, a verdadeira pronúncia de seu nome é ValériA, mas ele deve ter sido bastante hostilizado nas primeiras vezes que se apresentou desse jeito nos EUA, principalmente por seus colegas da construção civil).

Além de nós, tinha mais um carro de russos, portanto os falantes de português estavam em grande desvantagem na hora de tomar decisões. Em certa altura, paramos no que descobri ser um supermercado e, quando a Roberta me perguntou o que estávamos fazendo lá, respondi com toda a certeza: “eles pararam para comprar bebidas”. Quando eles saíram segurando uma bola de vôlei, foi então que percebi o quanto não estávamos entendendo nada do que eles estavam falando.

Chegamos em Daytona à tarde e, depois da compra da bola de vôlei, fomos direto à praia. O quanto não me surpreendi quando entramos de carro dentro da praia! Os carros simplesmente circulavam livremente pela areia e estacionavam por lá mesmo. Enquanto a praia de Miami era tão imaculada e indiferente à atmosfera urbana e cosmopolita em volta, Daytona Beach era excessivamente contaminada pela “civilização” daquele lugar. Entendi, então, por que diabos os carros que circulavam na cidade tinham rodas tão grandes: para agüentarem rodar sobre as areias fofas da praia.

Nos poucos trechos da praia em que os carros eram proibidos, podia-se ver uma paisagem bem bonita e amena, mas essa atmosfera era logo interrompida por alguma música alta ou alguém berrando num microfone. Não era uma época nada amena: estávamos em pleno spring break. Apesar dos carros e do barulho e do fato de que nossos amigos-motoristas começavam a ficar bêbados, até que nos divertimos bastante na praia.

À noite, combinamos de encontrar o Diego (ou Big D, meu amigo de dois metros), que vinha depois junto com o Fernando. Por algum motivo não muito claro, resolvemos ir ao cinema para passar o tempo até que ele chegasse, pois ele saberia dizer onde aconteceriam as festas. O filme: 10.000 bC, a pior coisa que já vi em muitos e muitos anos.

Finalmente o Diego chegou e estávamos no processo de escolher a balada quando o Fernando foi ameaçado de ser preso por não ter dado licença para uma moto passar, ou algo assim. Diego e Fernando banidos daquela calçada pelo resto da noite, estávamos novamente eu, a Roberta e os russos. A balada foi horrível: música ruim, ambiente péssimo, pessoas estranhas e um touro mecânico bem no meio de tudo isso. Dei graças a Deus quando resolveram ir embora. Reencontramos o Diego, que tinha ficado perambulando sozinho pela praia depois que se perdeu do Fernando, e fomos buscar o carro no estacionamento de um Burguer King.

É claro que o carro não estava mais lá. Então quer dizer que aquela placa de “tow-away zone” de fato merecia alguma atenção? Foi quando aprendi o significado do verbo tow – “your car was towed, sir” – disse a funcionária que estava varrendo o Burguer King. De repente, estávamos eu, Roberta e Diego sentados no chão do estacionamento vazio, esperando virem buscar-nos depois de pegarem o carro não-sei-onde pagando uma multa de 150 dólares. Um carro de polícia apareceu e o policial disse que teria que nos prender se continuássemos sentados ali. Expliquei a situação e ele nos mandou sentar num banco a uns 10 metros, onde fui picada por uma formiga.

No caminho de volta dormi um pouco, mas aquele maldito som me atormentava o sono. Eles escutavam uma música popular russa que, juro por Deus, tem a mesma melodia da Suíte dos Pescadores, do Dorival Caymmi. Mas, ao contrário do arranjo de Damiano Cozzela, em russo, ela soava muito brega e tinha uma letra melosa e romântica. Anton contou uma vez que os meninos bêbados costumam sair andando abraçados pelas ruas, chorando e cantando essas músicas na madrugada russa. Às vezes, eles fazem a mesma coisa com o hino nacional.

Chegamos ao hotel por volta das 5 da manhã. É claro que, já em Orlando, achamos que fôssemos todos morrer quando o Valéria quase entrou com o seu velho carro a toda velocidade na lateral do veículo de algum cidadão americano inocente que estava mais sóbrio e mais acordado do que ele. Nessas alturas, ninguém mais ousava contrariar o motorista, que já estava gritando com todo mundo só porque tinha acabado de jogar 150 dólares no lixo e passara as últimas duas horas dirigindo enquanto todos os outros dormiam. Estávamos todos com cara de bunda quando finalmente entramos em nossos quartos para dormir depois desse dia mágico ao extremo.

terça-feira, 29 de abril de 2008

East Village rocks


“It’s not as grungy and druggy as it once was, but it’s still New York’s rock’n’roll core”. Assim é a descrição de East Village, de acordo com meu guia, e foi por lá que andei na minha última manhã em NYC. Primeira parada: CBGB, o bar inaugurado em 1973 onde o Ramones costumava tocar antes mesmo de a banda se tornar famosa. Mas, nada de ilusões, eu já estava avisada sobre a decadência do lugar que, nos últimos anos, era usado como palco para bandas de metal de qualidade discutível. Tudo bem, eu só queira tirar algumas fotos e imaginar como teria sido o ambiente há uns 30 anos atrás.

Naquela manhã, antes de sair do albergue, peguei o mapa da região para programar meu roteiro a pé e achei estranho o fato de que o CBGB ficava na esquina da Bowery St com a Bleecker St, bem perto de onde eu pegara o metrô várias vezes para ir em direção ao norte da ilha. Talvez estivesse muito distraída naqueles dias de deslumbramento a ponto de não ter reparado na fachada.

Chegando ao endereço, foi com decepção que constatei que a casa estava fechada para reforma. Tirei uma tímida foto da fachada coberta de papel marrom, just for the record, e segui meu roteiro passando pela Trash e Vaudeville, uma loja punk e gótica ao mesmo tempo onde Yoko Ono se apresentou algumas vezes antes de ser conhecida como a garota de John Lennon e por uma loja que vendia produtos com a marca CBGB. Como era de manhã, esses lugares ainda estavam fechados, então fui em direção ao Tompkins Square Park, onde Jimmy Hendrix tocou nos anos 60, e, principalmente, onde Ethan Hawke costumava jogar basquete na adolescência. Terminei meu passeio em East Village passando em frente à primeira casa de Madonna em NY.

Naquele mesmo dia, resolvi ir a pé até a Quinta Avenida, o que me fez perceber que Manhattan, afinal, não é uma ilha tão grande. Mas não era sobre isso que eu queria falar. O fato é que eu estava assistindo ao Jornal Hoje de sábado quando passou uma matéria sobre a especulação imobiliária em Manhattan. Parece que, com a crise do país, os aluguéis, em vez de se desvalorizarem, foram às alturas em resposta à demanda de investidores europeus.

O edifício do CBGB estava em reforma sim, mas para abrigar uma loja da grife John Varvatos. Joey Ramone, cujo nome foi dado àquela quadra (Joey Ramone Place), deve ter se revirado no caixão depois dessa. É também por causa desse aumento excessivo dos aluguéis que hoje todo mundo fala em se mudar para o Brooklin, o novo lugar-mais-legal-do-mundo para se morar em NY.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Rififi


Decidi que é hora de voltar a postar aqui. Faz quase um mês que eu voltei de viagem e já estou completamente readaptada à vida no Brasil. Não foi nada difícil voltar a me acostumar com minha cama macia e com comida de verdade. Mas sinto falta dos meus dias em Nova York. Essa experiência causou uma impressão que não será facilmente esquecida. Foi uma jornada solitária pelas ruas de Manhattan, só eu e o meu guia lonely planet: errando o caminho, acertando depois, descobrindo novos caminhos possíveis, passando frio, tirando fotos, andando, andando e andando.

Mas não é verdade que meu passeio foi completamente solitário. Passei um dia muito divertido ao lado da Lila, minha amiga que está morando numa cidadezinha ao norte de Nova York. Visitamos a sede da ONU, passeamos pelo Central Park e, no final da tarde, paramos para comer num café da quinta avenida. Ela é a grande responsável pelas fotos em que eu apareço! Todas as outras são da paisagem, já que só tinha eu mesma para tirar as fotos.

Também saí uma noite com o pessoal do albergue: oito estrangeiros andando sem rumo na noite, procurando um lugar que supostamente se chamava China Club. É claro que não achamos! Nossa primeira parada foi no bar que inspirou o filme Coyote Ugly, aquele onde as garçonetes dançam em cima do balcão. Realmente, assim que entramos, já vimos umas meninas rebolando no balcão. Agora as próprias freqüentadoras do lugar são incentivadas a fazer isso em troca de bebidas de graça. Deve ser divertido para quem já está bêbado, mas para nós foi um pouco decepcionante porque essas meninas nem sabiam dançar direito. O bar é bem pequeno e o teto e as paredes são decorados com os sutiãs das clientes mais empolgadas. Tomamos uma cerveja e saímos em busca de algo melhor.

Abordamos alguns casais na rua para perguntar se eles conheciam o China Club, um lugar aonde a Laetitia, uma francesa que trabalhava no albergue, tinha ido há três anos atrás, da outra vez que morou em Nova York. Ninguém sabia dizer, mas provavelmente esse lugar nem existia mais, ou ficava longe dali, já que as recordações de Laetitia eram bem imprecisas. Até que ela mesma foi conversar com uma menina de cabelo azul, que vinha sozinha com um fone de ouvido e uma roupa indie-moderninha. Ela disse que estava indo para um lugar não muito longe dali que tocava músicas dos anos 80 e glam rock. Fomos atrás da menina e ela achou bem engraçado ser seguida por essas oito pessoas que falavam alto com sotaque de vários lugares do mundo.

Nós formávamos um grupo eclético e precisávamos de um lugar tão eclético quanto nós. O grupo era constituído por uma francesa, uma brasileira (eu), dois alemães, uma espanhola, e três outras pessoas que moravam no norte do estado de Nova York, mas tampouco eram americanos: uma suíça, uma indiana descendente de japoneses e um japonês. Tinha certeza de que a menina ia fingir que não conhecia a gente assim que chegássemos ao lugar, que se chamava Rififi. Não sei por que, mas gostei desse nome. A Laetitia comentou que soava como uma palavra francesa, apesar de não ter nenhum significado. No google descobri que existe um filme francês chamado Du rififi chez les hommes cujo título, nos EUA e na Inglaterra, foi traduzido apenas para Rififi; apenas uma possível explicação para o nome do clube.

No caminho descobrimos que nossa nova amiga era atriz e trabalhava numa série de TV chamada Fashionably late. Lá encontramos mais pessoas que se vestiam como ela e bebiam seus drinks com ar blasé. Algumas nos olharam de cima a baixo, mas nós éramos muitos e representávamos naquele momento uma boa porcentagem do público, então não ligamos pra isso. Fomos uns dos primeiros a começar a dançar, e a música era realmente boa! Franz Ferdinand, Interpol, The Cure, Smiths, David Bowie... Também tinham duas dançarinas que ficavam em cima de uns palquinhos. Uma delas ficava na frente de uma parede onde desenhos japoneses eram projetados. Ela era meio andrógena e dançava de um jeito estranho, usando um cabelo anos 80, um biquíni e um all star.

Em algum momento da noite, uma das minhas amigas do albergue me apresentou dois peruanos que também tinham passado três meses trabalhando no McDonald´s. Ela os tinha conhecido na fila do banheiro e chegou toda empolgada para mim: “I met some people who also hate McDonald´s!!!”. Em outro momento, um pouco antes de irmos embora, as pessoas começaram a se movimentar e combinar alguma coisa que eu não entendi direito na hora. Eu não percebi que a decisão coletiva tinha sido de subir no palco e dançar junto com a dançarina-andrógena-anos-80 até que fui puxada para cima e não tinha mais como escapar. Causamos no Rififi, e a dançarina mal se agüentava em pé de tanto rir. Depois pegamos nossos casacos e fomos embora. Foi minha noite mais divertida em Nova York.


* Foto tirada no Top of the Rock, o topo do Rockefeller Center. Essa mancha verde e amarela na esquerda superior é o Empire State Building. Cada semana ele é iluminado com cores diferentes e ele estava especialmente brasileiro durante minha estadia em NY.

quinta-feira, 20 de março de 2008

I S2 NY!


Peço licença para pular o capítulo que diz respeito às minhas últimas semanas na Flórida para escrever sobre meus dias em Nova Iorque.

Hoje amanheceu um dia bem chuvoso - choveu desde o momento em que eu saí do albergue até o momento em que entrei no metrô para voltar para casa. Quando saí do metrô, ironicamente, a chuva tinha parado. O meu plano era ir à Times Square como o primeiro programa do dia, mas, por causa do tempo, ir ao MoMA me pareceu um programa mais... hm... seco. Chegando lá, tive que enfrentar uns 40 minutos de fila... do lado de fora do prédio! Não poderia estar mais errada quanto ao "seco".

Já estava resignada a entrar no museu ensopada e, afinal, a sensação térmica de tomar chuva num frio de 5 graus não era tão ruim quanto eu esperava. Quando pensei que a chuva estava parando, olhei para cima e vi um guarda-chuva em cima da minha cabeça. As pessoas aqui têm se mostrado, em geral, bem gentis comigo. Esses, porém, não eram nova-iorquinos - eram turistas australiano. O casal italiano da minha frente também me ofereceu um espaço sob o guarda-chuva depois.

A verdade é que, quando se viaja sozinha, é comum se encontrar em situações em que a ajuda de outras pessoas se faz necessária, ou aparenta ser necessária. Foi o caso de quando eu estava procurando a casa onde Truman Capote escreveu Bonequinha de Luxo, no Brooklyn. Sozinha, com a máquina fotográfica em uma mão e o mapa na outra, eu só poderia parecer perdida - foi quando um grupo me abordou perguntando se eu precisava de orientação.

Outra ocasião em que me ofereceram ajuda foi no metrô, vindo para o albergue com duas malas de 20kg cada. Uma mulher simplesmente carregou uma das minhas malas da estação até o albergue. Ela só dava risada e dizia “you’re crazy!”, por estar viajando sozinha com tanta bagagem.

As fotos dos meus dois primeiros dias de viagem são todas de paisagens. Sim, essa é outra desvantagem de viajar sozinha. A foto acima é um Jackson Pollock que vi no MoMA. Agora tenho que ir dormir porque amanhã será mais um longo dia de peregrinações em museus e parques!

ps.: não gostei da Times Square. Muita gente, muita luz, é um lugar estressante. Além disso ainda tinham pessoas distribuindo papeizinhos sobre um “filme científico” que estava passando de graça a cada 15 minutos. Na verdade, era uma tentativa de lavagem cerebral pela Scientology Church, a igreja do Tom Cruise, que, aliás, tem uma sede na própria Times Square.

sábado, 8 de março de 2008

(still) On duty


Na semana passada, fiz duas vezes o caminho hotel – aeroporto. Isso significa que tive tempo suficiente par a ler, dormir, olhar a paisagem, refletir sobre a vida e assistir à TV do ônibus. Da primeira vez, fui tentar mudar a data da minha passagem de volta, da segunda vez, fui acompanhar minha amiga que embarcou para Nova Iorque.

A TV do ônibus mostra a previsão do tempo para o país, algumas notícias e as sinopses dos filmes em cartaz. Tem também palavras cruzadas (nem me perguntem como isso funciona), propagandas e um quadro chamado “In a day like this...”, que mostra fatos importantes que aconteceram naquele mesmo dia de anos anteriores. Foi assim que eu descobri que, no dia 29 de fevereiro de 1984, o primeiro ministro do Canadá, Pierre Trudeau, deixou o cargo (acho que eles estavam em falta de acontecimentos interessantes em pleno dia 29 de fevereiro). Ainda segundo a TV, tem um filme novo da Angelina Jolie e um da Christina Ricci em cartaz. Também li algo sobre um encontro entre o The Clash e o Sex Pistols, mas eu fiquei tão absorta com a manchete dessa última notícia que não conseguir ler até o fim.

Apesar de ser feita, aparentemente, com poucos recursos, ela ainda me pareceu menos amadora do que as TVs dos ônibus de São Paulo, que mostram o horóscopo em vez da previsão do tempo e vídeos pretenciosamente engraçados em vez das notícias do dia. Mas me ocorre agora que lançar notícias escritas numa TV é aproveitar muito mal os recursos audiovisuais que ela pode oferecer. Eu não entendo, afinal de contas, por que precisamos ver TV no ônibus.

No fim, não consegui adiantar minha passagem. Trabalho no McDonald’s até quarta-feira que vem. Na segunda, embarco para Nova Iorque e na outra segunda, dia 24, volto para o Brasil. No começo da viagem, eu me divertia planejando com as minhas amigas o que iríamos fazer no último dia de trabalho: lançar uma bandeja de nuggets no chão, bater no nosso gerente chato, alertar os clientes sobre o perigo de comer aquela comida... Quanto mais esse dia se aproxima, mais acho que realmente sou capaz de pôr em prática alguns desses planos. Enquanto esmurrar alguém se torna cada vez mais plausível, a saudade aumenta e também as expectativas para os passeios que farei no fim da viagem.

Falando em passeios, no começo desta semana fui para Miami. Na verdade, ficamos numa cidadezinha chamada Pembroke Pines, que fica a meia hora de Miami. Passamos um dia inteiro em South Beach, no qual aproveitamos o sol, passeamos por umas galerias, por um jardim botânico, vimos as fachadas dos edifícios com estilo art déco, tiramos uma foto em frente ao

Miami Ink e comemos um lanche no Johnny Rockets. A praia é linda e é estranho como, numa cidade tão grande quanto Miami, ela pareça ter tão pouca interferência da civilização. É só a areia, o mar, as águas-vivas e, de vez em quando, uma casinha de madeira para os salva-vidas.
Os parentes da minha amiga que nos receberam lá rendem um post a parte! Eles são umas figuras e nos recebram muito bem, levaram a gente pra lá e pra cá e nos fizeram sentir em casa. Pela primeira vez em três meses eu comi uma comida de mãe.

Notícias do dia: de hoje para amanhã começa o horário de verão por aqui. Descobri por acaso já que não assisto televisão (a não ser a do ônibus). Gostaria de dizer que é por um motivo nobre, mas é por simples falta de tempo e também porque, para ligar a TV do quarto, é preciso desligar o microondas. Quer dizer, assim era até uma semana atrás. Desde então, já mudei de quarto duas vezes.

sábado, 1 de março de 2008

Fato pitoresco do dia

Uma mulher no McDonald's usava uma camiseta com os seguintes dizeres: "Why do they call it tourist season if we can't shoot them?"

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Foo Fighters

Atendendo aos pedidos dos nossos leitores vou contar sobre o show do Foo Fighters, que já aconteceu faz algum tempo, mas eu acabei esquecendo de falar sobre ele!

Devo começar dizendo que não foi o meu primeiro show do Foo Fighters. Eu já tinha assistido ao show que eles fizeram no Rock in Rio III, em 2001, confortavelmente sentada no sofá da minha casa. Na época, meu CD “The colour and the shape” andava esquecido em alguma gaveta, mas quando eles começaram a se apresentar, não pude deixar de me empolgar com cada música e me emocionar quando eles tocaram Everlong. Eles são muito carismáticos e o Dave Grohl é uma figura e faz todo mundo rir entre uma música e outra.

O show que eles fizeram aqui foi no Amway Arena, onde também acontecem os jogos da NBA. O lugar é enorme, cabem 18.000 pessoas. Quem abriu o show foi uma banda de cujo nome não me lembro agora, mas que era parecida demais com uma banda emo para valer a pena.

Quando finalmente o Foo Fighters entrou no palco, eles levantaram o estádio inteiro. Mesmo assim, percebi uma grande diferença entre o público daqui e o público brasileiro. No Brasil, as pessoas interagem mais com a banda, cantam mais, pulam mais.

Confesso que não conhecia a maioria das músicas, o que não me impediu de curtir o show. Apesar de estarmos no pior lugar do estádio, ele não era tão ruim. No meio do show, a banda inteira veio para um mini-palco bem na nossa frente e tocaram umas 5 músicas lá.

Não tenho fotos do show porque na entrada barraram minha câmera. Tivemos que pedir para deixá-la num hotel na frente do estádio, depois que a funcionária do estádio sugeriu que a deixássemos em algum arbusto nos arredores.

Notícias de hoje: no meu dia de folga, vou num shopping ver se a Victoria’s Secret continua em liquidação. À noite, minha programação ainda não está definida. Esta semana, a Bruna vai embora e vamos nos transferir para outro quarto no hotel. Hoje fiz minhas reservas num albergue de NY!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

The most unique


Falando em coisas kitsch, acho que nunca descrevi a decoração do lugar onde eu trabalho. Vamos por partes. O edifício é constituído por dois blocos – um de dois andares e um térreo. Do lado de fora, o visitante pode ver uma batata frita gigante com contornos de neon na parede do bloco de dois andares. Esse bloco abriga o auto-proclamado “largest Mc Donald’s playplace in the world”. Do lado de fora do bloco térreo, o visitante pode apreciar um mural com desenhos dos personagens do imaginário McDonald’s onde também se pode ler o anúncio: “the most unique Mc Donald’s in the world”. Na escada de emergência, fica uma estátua do Ronald McDonald eternamente acenando em direção à Sand Lake Rd.

Com uma fachada dessas, o interior promete. Logo ao entrar, o visitante se depara com uma seção anos 50, onde se pode encontrar um JukeBox e duas paredes abarrotadas de ícones dessa época. O Jukebox funciona e, o melhor, de graça. Essa parte seria até bem charmosa se não fossem umas luzes piscando, que até pouco tempo atrás eu achava que fizessem parte da decoração de natal. E, é claro, se ela tivesse alguma coisa a ver com o resto do lugar. Também no bloco térreo fica o balcão de pedidos, que é bem parecido com o de qualquer outro Mc.

O bloco de dois andares é um primor. Ele quer ser meio jungle, com folhagens e estampas de zebra. Um aquário gigante ocupa o espaço central e, no fundo, tem algo cujo sentido eu nunca consegui decifrar: um homem que tem uma cabeça em forma de uma meia lua usando óculos escuros sentado ao piano. Tanto esse lugar quanto o andar de cima são abarrotados de jogos. Subindo as escadas, o visitante pode tirar uma foto ao lado do Ronald McDonald sorridente sentado no banco de madeira.

O que me faz lembrar que há várias semanas, todos falavam que se aproximava o dia da visita do Ronald McDonald nessa loja. Eu não entendia por que aquilo era tão importante, já que os outros personagens do imaginário McDonald’s sempre aparecem por lá e quem veste suas fantasias são os próprios funcionários da cozinha (esses personagens incluem um tipo de um prisioneiro mascarado e uma massa amorfa roxa). Enfim, eu achava que qualquer um podia se vestir de Ronald, mas o que eu descobri é que, desde o começo, só existe um único Ronald. E era esse o motivo de tanto alarde: ele só faz essa visita uma vez por ano.

Notícias de hoje: fui ao Universal Studios. Nos últimos dias, além de trabalhar, tenho me dedicado a andar em todas as montanhas russas da Flórida, por isso a demora em postar neste blog.

Sonhos: mais uma vez eu sonhei que a minha lente de contato era gigante. Dessa vez eu estava numa floresta escura quando ela pulou para fora e adquiriu seu tamanho fora do comum. Eu resolvi colocar ela de volta mesmo assim e deu tudo certo no final. Outro dia, aliás, eu dormi de lente. Quando acordei, só estava com uma. A outra achei embaixo do meu travesseiro quando voltei do trabalho. Deixei ela no soro por dois dias e agora ela está melhor do que nunca.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Dias de turista 2


Orlando é uma cidade inteira voltada para o turismo. Quando andamos pela rua durante o dia, somos abordadas por pessoas vendendo ingressos da Disney, ingressos de mini-golfs, ingressos para ver um jacaré sendo alimentado ao vivo, entre outras atrações. Mas os turistas vêm mesmo para conhecer a Disney. Apesar disso, a cidade já era turística bem antes do senhor Walt resolver transferir o rato da Califórnia para cá.

O que aconteceu é que a chegada da Disney esmagou quase todos os outros parques temáticos e resorts que antes atraíam os turistas para Orlando e arredores. Alguns poucos sobreviveram e, para isso, tiveram que se adaptar aos novos padrões de qualidade adotados pela Disney (existe até um verbo para isso: to disneyfy). A Disney fez a cidade crescer: o número de turistas aumentou, assim como o número de habitantes. O crime também cresceu e a tranquilidade da população diminuiu consideravelmente desde então.

Mesmo tendo consciência de que a economia da cidade gira em torno da Disney, ela não está tão presente no cotidiano de quem trabalha aqui. Poucas vezes eu ouvi pessoas daqui falando sobre a Disney. Ela só aparece nas conversas quando algum estudante brasileiro pergunta, inconformado, por que diabos tantas pessoas se submetem ao cardápio horrível que o McDonald’s oferece às 8h da manhã e alguém responde, sem prestar muita atenção no que está dizendo, que são os turistas que passam para tomar o café da manhã antes de irem para os parques.

Enfim, ontem eu fui para a Disney! Visitei dois parques: o Epcot e o Magic Kingdom. O ingresso para cada parque custa 75 dólares, mas, procurando o suficiente, dá para descobrir esquemas que lançam você nos braços do Mickey Mouse por bem menos. A maioria dos esquemas tem a ver com pessoas que trabalham lá e ganham ingressos semanalmente. Eu e meus amigos soubemos que um dos funcionários do Mc trabalhava também na Disney e podia nos levar por 50 dólares cada, para ver quantos parques quiséssemos em um dia.

Esse funcionário, o Will, é provavelmente a última pessoa na face da terra que escuta Michael Jackson no último volume dentro do carro. Mas a gente acabou sobrevivendo o caminho inteiro e chegamos no Epcot com a audição quase intacta. O passeio só não foi mais divertido por causa da chuva que nos acompanhou o dia inteiro... Sim, a Disney é muito divertida e o Mickey derrete o coração de qualquer um. O dia terminou com uma torta de maçã e com a queima de fogos em cima do castelo da Cinderela.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Dias de turista


Cansada desta minha vida proletária, resolvi fazer alguns programas típicos de turista na semana passada. Devidamente orientada por um guia da Flórida que pedi pela internet, saí do hotel na quarta-feira de manhã disposta a andar bastante e tirar fotos. Comprei um day pass para poder andar o dia inteiro de ônibus por quatro dólares e segui em direção ao centro da cidade.

Antes de chegar ao centro em si, tive que passar no escritório da Oerther Foods – a empresa que é dona dos McDonald’s da cidade – para pegar o meu pagamento que misteriosamente foi parar lá. Tive que andar umas cinco quadras gigantes de uma rua chamada Orange Blossom (no estado da laranja, grande parte dos nomes de lugares tem a ver com “orange”). Como eu já disse uma vez, Orlando não é a melhor cidade para se andar à pé. Algumas ruas simplesmente não tem calçada e os motoristas passam olhando como se você fosse uma aberração. Então o percurso foi relativamente solitário, apesar do tráfego pesado de caminhões da rua.

O que eu já tinha reparado da outra vez que fiz esse caminho é que lá tem vários estabelecimentos que se intitulam “gentlemen’s clubs”. Dentre eles, o que mais me intrigou foi um que se chamava Baby Doll Gentlemen’s Club: a placa em frente dizia “10 hot chicks and 1 ugly one” (???). Da próxima vez que passar lá à pé, tiro uma foto!

Enfim, depois do paycheck eu peguei o outro ônibus para downtown. Da estação até o Park Eola fui de Lymmo – é o nome do ônibus de graça que sai de 5 em 5 minutos e passa em quase todos os lugares do centro da cidade (não, não é uma limo). O lago Eola é um dos cartões postais de Orlando – é realmente bonito, com uma fonte enorme no meio e muitos patos, esquilos e cisnes que andam por lá como se fossem pedestres – pela calçada. Em volta do lago tem uma pista de caminhada, um anfiteatro e alguns cafés. É claro que o tamanho do parque nem se compara ao Ibirapuera, mas ele tem seu charme próprio.

No dia seguinte voltei para downtown para ir ao museu da cidade, dessa vez acompanhada pela Rubi, uma das minhas roomates. Lá tem uma seção sobre a história da Flórida bem instrutiva, ao que parece – a laranja, a pecuária, o clima, os lagos, os negros, os nativos, a disney, os meios de transporte... Tinha também uma exposição sobre brinquedos do século XX muito divertida! A gente se divertiu horrores tirando fotos num tribunal que foi desativado em 1999 – igualzinho esses que aparecem nos filmes. Além, é claro, de coisas kitsch como “o maior ioiô do mundo”. Aliás, eles adoram essas coisas por aqui: a maior gift shop do mundo, o maior McDonald’s do mundo (é como se auto-intitula o lugar onde eu trabalho), o maior pneu do mundo, etc, etc... Ainda tenho que contar sobre o outro museu que visitei hoje e sobre uma ida frustrada a um jardim botânico que já tinha fechado, mas fica para um outro dia.

Fato interessante que descobri no museu: Jack Kerouak escreveu um livro em Orlando – The Dharma Bums. Que os mesmos ares que inspiraram Kerouak também me inspirem para que eu faça alguma coisa de útil por aqui. Hoje foi um dia particularmente ruim no trabalho e em tudo mais, mas tenho planos para que os próximos sejam melhores.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Sonhos...

Será que existe algum significado freudiano em sonhar que as próprias lentes de contato são enormes e eu só consigo pegá-las usando as duas mãos? É um sonho recorrente.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Macville

O McDonald’s onde eu trabalho funciona 24h. Geralmente, eu trabalho a partir das 10h: é o horário em que se começam a preparar as coisas para servir os lanches. Antes disso (das 4h da manhã até 10h30) eles só servem café da manhã. O café é preparado numa outra cozinha e o cardápio é dos mais improváveis para a primeira refeição do dia. São basicamente alguns tipos de pãezinhos doces recheados com ovos, bacon, sausage e outras coisas gordurosas do tipo. Eles também servem burritos e panquecas.

Quando acontece de o meu schedule dizer que eu preciso entrar antes das 10h, lá vou eu trabalhar na cozinha do café da manhã. Da primeira vez que fiz isso, derrubei uma bandeja cheia de bagels e deixei queimar uns muffins. Não sei se é por isso, mas a gerente que cuida do café da manhã simplesmente me odeia. Ela se chama Sheira, mas isso eu só descobri ontem. Até então, eu chamava ela de Sheila, o que pode também ser um motivo extra para ela me odiar.

Sexta-feira comecei a trabalhar às 8h, e, a princípio, a Sheira me disse que não tinha muita coisa que eu pudesse fazer. Então, eu gastei uns minutos a mais para colocar as minhas luvas e me distraí durante alguns momentos lendo as instruções para o preparo dos ovos. De repente, ela me diz que acabaram os bagels e o que eu estava fazendo que ainda não tinha posto eles na torradeira!? E depois ela me perguntou quantas bandejas de biscuits eu já tinha colocado no forno e ainda me pediu 4 burritos! E depois mais 4! Em seguida vieram os muffins e quando eu percebi, as pontas da minha luva estavam derretendo por causa do calor dos fornos e eu me queimei toda.

Desde a primeira vez, eu tinha notado uma semelhança entre o trabalho no café da manhã do Mc e alguma outra situação que eu já tinha presenciado, mas não consegui identificar até sexta-feira. Foi quando me veio a imagem de Grace, a protagonista de Dogville. Fugindo de um grupo de gangsters, ela busca abrigo numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos nos anos 30. Os poucos moradores aceitam escondê-la desde que, em troca, a fugitiva realizasse pequenos trabalhos para a comunidade. No começo, ninguém quer aceitar sua ajuda e todos dizem que não há nada que ela possa fazer. Progressivamente, os pequenos trabalhos vão se tornando mais e mais exigentes, até que... Bom, como não coloquei um aviso de que “este artigo contém spoilers”, paro por aqui. Mas acho que deu para entender o que eu quis dizer.

Notícias de hoje: estou gripada e entro no trabalho às 16h. Talvez eu coma alguma coisa decente num restaurante. Ainda tenho que contar tudo sobre o show do Foo Fighters, que foi muito bom, e sobre o jogo Orlando Magic x Portland Blazers que assisti ontem!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

House of Blues

Ontem fomos a uma balada em downtown Disney chamada House of Blues. A minha primeira balada em Orlando não foi muito diferente de qualquer outra de São Paulo, já que metade das pessoas eram brasileiras. Minha amiga até encotrou um colega de classe! Também encontramos um outro brasileiro ilustre: Kiko, o “K” do KLB, com quem fizemos questão de tirar uma foto – olha o mico! Afinal, quem está na chuva, é pra se molhar... (agora me fugiu aquela expressão que se usa para dizer que, estando em território estranho ao seu, o melhor a fazer é deixar de lado seus princípios para adotar os costumes locais: “em Tróia, faça como os troianos”, ou algo assim...).

Pagamos 8 dólares para entrar. Meninas bebiam de graça até meia noite. No balcão, perguntei quais eram as opções de bebida. Como não entendi um nome sequer pronunciado pela balconista, pedi para ela me dar a que ela gostava mais e ela me deu sex on the beach, que deu para repetir mais algumas vezes antes da meia noite! Lá pelas 2h, cansei da música eletrônica, sentei e me distraí durante um tempo vendo as dançarinas (meu amigo me censurou quando eu as chamei de strippers).

Nossa volta para casa teve uma escala no McDonald’s, onde uma manager mal humorada se recusou a dar o desconto de 50% para funcionários porque não estávamos em horário de trabalho.

Chegando ao hotel, encontrei o pessoal que trabalha no turno da noite reunido no meu quarto. Como hoje eu entraria só às 18h no trabalho, fiquei conversando até quase 7h da manhã. Nesse tempo, os colombianos nos ensianaram a cantar a música Corazón Partió. Agora já posso dizer que eu quase falo espanhol!

Mas ainda nao contei por que motivo estou caindo de sono às 22h de hoje. De manhã, o telefone tocou: era do Mc. Eles pediram para eu ir mais cedo, por isso só dormi 4h! No trabalho, não aconteceu quase nada de interessante, mas tive uma boa notícia: recebi meu social security number e agora finalmente vou poder procurar um outro trabalho!

sábado, 12 de janeiro de 2008

Stories from the city

Hoje choveu em Orlando. Isso não aconteceu muitas vezes desde que cheguei aqui.

Não é a primeira vez que visito a cidade. Estive aqui em 1996, vim com a minha mãe, tia e amigos para passear na Disney. Na mesma viagem, conhecemos New Orleans. Para uma criança de 10 anos, a experiência de ir para a Disney é muito intensa. Diante dela, quase tudo se torna opaco e sem graça (pelo menos por um tempo). Já a viagem para New Orleans não foi muito bem aproveitada justamente por causa da idade. Lembro de ter dormido durante um show de jazz, de ter medo das pessoas esquisitas que andavam pela Bourbon Street à noite, do cheiro de insenso e dos clubes de strip-tease.

A Disney ofusca quase todas as memórias da cidade de Orlando. No táxi do aeroporto para o hotel, o que mais me chamou a atenção foi como tudo é longe de tudo aqui. Apesar de a cidade ter 180.000 habitantes, ela é muito grande. Já passei 1h dentro do ônibus para ir do hotel ao centro da cidade. Outra característica estranha é que aqui é muito difícil andar à pé. Em algumas ruas simplesmente não existe calçada. Minhas amigas desenvolveram a teoria de que é por isso que tem tanta gente obesa!

Mas eu realmente entendi por que as pessoas são tão gordas quando eu fui ao Wall Mart pela primeira vez. Lá você pode encontrar milhares de tipos de cookies, muffins, brownies, donnuts, biscoitos, cereais, tudo muito muito grande e, na maioria das vezes, barato. Também tem várias prateleiras de comida congelada, comida enlatada, comida instantânea. E é isso o que as pessoas comem! Isso e McDonald’s.

A rua onde eu moro, a International Drive, é um centro turístico. Tem vários hotéis e restaurantes. Tudo parece uma maquete às vezes. É tudo perfeitinho e o neon das lojas é meio retrô. De madrugada não é muito recomendável andar na rua, não apenas porque as ruas estão vazias, mas principalmente porque é o horário em que os chafarizes começam a molhar as gramas e é difícil sair ileso!

Andando de ônibus de um lugar para o outro, dá para perceber quais são as regiões mais “pobres” da cidade. Mas não tem nenhuma miséria, as casas são um pouco mais simples e bagunçadas e os jardins não são tão verdes. Nessas regiões, tem alguns trailers também.

Outra coisa engraçada sobre a cidade é que andando por aí, dá pra encontrar vários objetos na rua. Meu amigo já encontrou uma bermuda e um macaco de pelúcia que dança e canta uma musiquinha mais ou menos assim quando apertam sua mão: “You make my heart plain, you make everything, oh, I think I love you!”. Agora estamos de olho num par de botas e numa calça jeans que vimos no caminho do hotel para o Mc!

Amanhã é meu dia de folga e talvez eu coma alguma coisa decente no almoço. Hoje adaptei meus horários de trabalho para poder ir a um jogo da NBA e ao show do Foo Fighters na semana que vem! Agora preciso subir para o meu quarto. Na TV do saguão do hotel está passando Titanic e o navio está quase completamente submerso... É hora de dormir.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

De como eu vim parar aqui

Demorou, mas finalmente estou ativando este blog que foi concebido algumas horas antes de eu sair do Brasil. A princípio, criei o blog para mandar notícias constantes e manter os amigos informados sobre o que eu ando fazendo por aqui, mas pretendo continuar postando mesmo depois de voltar para casa.

Como estou aqui já há 24 dias, acumulei muita coisa pra contar e não tenho certeza se vou dar conta. Mas, vamos aos poucos, começando pela justificativa de por que só estou dando notícias agora. Acontece que aqui lanhouses e cybercafés são muito caros! Os lugares cobram 1 dólar por 4 minutos de internet. O que é muito comum é internet sem fio nos hotéis, cafés e restaurantes, mas, para isso, você tem que ter um laptop.

É por esse motivo que no domingo passado, às 10h50 estávamos eu e dois amigos plantados na frente de uma loja de eletrônicos chamada Best Buy, ao lado de uma pequena multidão de 50 pessoas esperando as portas abrirem, o que aconteceu precisamente às 11h. Não pude deixar de ficar um pouco constrangida com a situação. Talvez este país esteja me deixando um pouco mais consumista do que é saudável ser (me lembrem de contar sobre o WallMart!), mas, enfim, é apenas por três meses, vai!

A Best Buy é conhecida por promoções malucas de laptops e eu saí de lá com o meu! A minha amiga Bruna também. Depois, quase fomos atacadas por um maníaco no ponto de ônibus, mas isso já é outra história...

Diário de bordo
Saí do Brasil na madrugada do dia 17 de dezembro, à 1h50. No aeroporto, estava um pouco enjoada, resultado do nervosismo de fazer uma grande viagem sozinha pela primeira vez. Tomei um dramin por recomendação da minha mãe e por isso quase não consegui ver o avião decolar. Em poucos minutos eu atingi um sono profundo, que era interrompido de vez em quando pelos comissários servindo alguma coisa. Apesar do sono, a viagem não foi muito tranquila. Numa das raras ocasiões em que abri os olhos, senti uma certa claustrofobia por não poder levantar quando eu quisesse.

Chegando a Miami, a moça da alfândega foi muito simpática (é sério, sem ironia!) e, depois de despachar a minha bagagem, ainda sobraram umas quatro horas até o vôo para Orlando, nas quais eu decorei as capas das revistas das prateleiras de uma livraria (incluindo a ampla seção latina), tomei chocolate quente no Starbucks e dormi em cima da minha mala de mão (o dramin continuava fazendo efeito).

O vôo Miami – Orlando transcorreu sem problemas e eu tive a sorte de sentar na janela de novo. É o meu lugar preferido, apesar do pequeno ataque de claustrofobia do vôo anterior. Lá no aeroporto, surpreendentemente, minha mala chegou sem nenhum arranhão! Aproveitei para comprar minha passagem Orlando – Nova York e peguei um táxi para o hotel. Esse percurso foi muito emocionante, já que o endereço que me deram como se fosse o do hotel era, na verdade, do McDonald’s. Depois de rodarmos por vários minutos, o taxista me emprestou o celular para eu ligar no escritório do Mc e confirmar o endereço do hotel. Depois, ele achou o lugar sem problemas e nem cobrou tão caro.

Hoje
Só para não fazer um post gigante contando todas as histórias atrasadas, vou contar alguma coisa realmente atual. Hoje eu, a Bruna e a Flávia (duas das meninas que dividem o quarto comigo – a outra é a Rubi) compramos o passe anual do Wet’n’Wild! Sim, janeiro continua sendo inverno no hemisfério norte, mas a Flórida é um caso à parte. Semana passada fez bastante frio por uns três dias, a temperatura mínima foi de -3C. Depois esquentou de novo, tanto é que hoje aproveitamos a manhã tomando sol e nadando no Wet’n’Wild! O dia mais frio do ano foi justo quando fomos ao Sea World. Hoje também fomos na loja da Victoria’s Secret no Florida Mall e já fizemos um estrago nos cartões de crédito!

Ainda não falei nada sobre o trabalho no Mc, o que requer um post especial. Já adianto que as pessoas de lá não são muito simpáticas, o trabalho não é muito gratificante e eu já levei a maior bronca no segundo dia por ter feito um Double Quarter Pounder with Chease com uma carne só. Quando o gerente veio me perguntar repetidas vezes, num tom de voz nada simpático: “Is this a Double Quarter with Chease???”, com o lanche aberto na minha frente, eu não pude responder que eu não dava a mínima para a configuração exata de um Double Quarter with Chease, mas, esde então, aprendi a não levar aquele lugar muito a sério.

Mas um dos gerentes é muito legal, o Deryl. De vez em quando ele me dá alguma coisa, como fichas para os jogos e sorvete do bistro gourmet (uma seção que tem no Mc daqui que serve massas, pizzas e uns pratos e sobremesas mais sofisticados). Aqui conheci pessoas muito legais! No nosso hotel, tem mais um quarto de brasileiros e vários quartos de colombianos, todos estudantes trabalhando no Mc. Depois publico uma foto deles.

That’s it for today. Aqui é 22h28 e preciso voltar para o meu quarto para preparar uma delícia de Cup Noddles de 27 cents. Logo logo posto mais novidades e mais histórias antigas desses 20 e tantos dias de viagem.

See ya!