terça-feira, 29 de abril de 2008

East Village rocks


“It’s not as grungy and druggy as it once was, but it’s still New York’s rock’n’roll core”. Assim é a descrição de East Village, de acordo com meu guia, e foi por lá que andei na minha última manhã em NYC. Primeira parada: CBGB, o bar inaugurado em 1973 onde o Ramones costumava tocar antes mesmo de a banda se tornar famosa. Mas, nada de ilusões, eu já estava avisada sobre a decadência do lugar que, nos últimos anos, era usado como palco para bandas de metal de qualidade discutível. Tudo bem, eu só queira tirar algumas fotos e imaginar como teria sido o ambiente há uns 30 anos atrás.

Naquela manhã, antes de sair do albergue, peguei o mapa da região para programar meu roteiro a pé e achei estranho o fato de que o CBGB ficava na esquina da Bowery St com a Bleecker St, bem perto de onde eu pegara o metrô várias vezes para ir em direção ao norte da ilha. Talvez estivesse muito distraída naqueles dias de deslumbramento a ponto de não ter reparado na fachada.

Chegando ao endereço, foi com decepção que constatei que a casa estava fechada para reforma. Tirei uma tímida foto da fachada coberta de papel marrom, just for the record, e segui meu roteiro passando pela Trash e Vaudeville, uma loja punk e gótica ao mesmo tempo onde Yoko Ono se apresentou algumas vezes antes de ser conhecida como a garota de John Lennon e por uma loja que vendia produtos com a marca CBGB. Como era de manhã, esses lugares ainda estavam fechados, então fui em direção ao Tompkins Square Park, onde Jimmy Hendrix tocou nos anos 60, e, principalmente, onde Ethan Hawke costumava jogar basquete na adolescência. Terminei meu passeio em East Village passando em frente à primeira casa de Madonna em NY.

Naquele mesmo dia, resolvi ir a pé até a Quinta Avenida, o que me fez perceber que Manhattan, afinal, não é uma ilha tão grande. Mas não era sobre isso que eu queria falar. O fato é que eu estava assistindo ao Jornal Hoje de sábado quando passou uma matéria sobre a especulação imobiliária em Manhattan. Parece que, com a crise do país, os aluguéis, em vez de se desvalorizarem, foram às alturas em resposta à demanda de investidores europeus.

O edifício do CBGB estava em reforma sim, mas para abrigar uma loja da grife John Varvatos. Joey Ramone, cujo nome foi dado àquela quadra (Joey Ramone Place), deve ter se revirado no caixão depois dessa. É também por causa desse aumento excessivo dos aluguéis que hoje todo mundo fala em se mudar para o Brooklin, o novo lugar-mais-legal-do-mundo para se morar em NY.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Rififi


Decidi que é hora de voltar a postar aqui. Faz quase um mês que eu voltei de viagem e já estou completamente readaptada à vida no Brasil. Não foi nada difícil voltar a me acostumar com minha cama macia e com comida de verdade. Mas sinto falta dos meus dias em Nova York. Essa experiência causou uma impressão que não será facilmente esquecida. Foi uma jornada solitária pelas ruas de Manhattan, só eu e o meu guia lonely planet: errando o caminho, acertando depois, descobrindo novos caminhos possíveis, passando frio, tirando fotos, andando, andando e andando.

Mas não é verdade que meu passeio foi completamente solitário. Passei um dia muito divertido ao lado da Lila, minha amiga que está morando numa cidadezinha ao norte de Nova York. Visitamos a sede da ONU, passeamos pelo Central Park e, no final da tarde, paramos para comer num café da quinta avenida. Ela é a grande responsável pelas fotos em que eu apareço! Todas as outras são da paisagem, já que só tinha eu mesma para tirar as fotos.

Também saí uma noite com o pessoal do albergue: oito estrangeiros andando sem rumo na noite, procurando um lugar que supostamente se chamava China Club. É claro que não achamos! Nossa primeira parada foi no bar que inspirou o filme Coyote Ugly, aquele onde as garçonetes dançam em cima do balcão. Realmente, assim que entramos, já vimos umas meninas rebolando no balcão. Agora as próprias freqüentadoras do lugar são incentivadas a fazer isso em troca de bebidas de graça. Deve ser divertido para quem já está bêbado, mas para nós foi um pouco decepcionante porque essas meninas nem sabiam dançar direito. O bar é bem pequeno e o teto e as paredes são decorados com os sutiãs das clientes mais empolgadas. Tomamos uma cerveja e saímos em busca de algo melhor.

Abordamos alguns casais na rua para perguntar se eles conheciam o China Club, um lugar aonde a Laetitia, uma francesa que trabalhava no albergue, tinha ido há três anos atrás, da outra vez que morou em Nova York. Ninguém sabia dizer, mas provavelmente esse lugar nem existia mais, ou ficava longe dali, já que as recordações de Laetitia eram bem imprecisas. Até que ela mesma foi conversar com uma menina de cabelo azul, que vinha sozinha com um fone de ouvido e uma roupa indie-moderninha. Ela disse que estava indo para um lugar não muito longe dali que tocava músicas dos anos 80 e glam rock. Fomos atrás da menina e ela achou bem engraçado ser seguida por essas oito pessoas que falavam alto com sotaque de vários lugares do mundo.

Nós formávamos um grupo eclético e precisávamos de um lugar tão eclético quanto nós. O grupo era constituído por uma francesa, uma brasileira (eu), dois alemães, uma espanhola, e três outras pessoas que moravam no norte do estado de Nova York, mas tampouco eram americanos: uma suíça, uma indiana descendente de japoneses e um japonês. Tinha certeza de que a menina ia fingir que não conhecia a gente assim que chegássemos ao lugar, que se chamava Rififi. Não sei por que, mas gostei desse nome. A Laetitia comentou que soava como uma palavra francesa, apesar de não ter nenhum significado. No google descobri que existe um filme francês chamado Du rififi chez les hommes cujo título, nos EUA e na Inglaterra, foi traduzido apenas para Rififi; apenas uma possível explicação para o nome do clube.

No caminho descobrimos que nossa nova amiga era atriz e trabalhava numa série de TV chamada Fashionably late. Lá encontramos mais pessoas que se vestiam como ela e bebiam seus drinks com ar blasé. Algumas nos olharam de cima a baixo, mas nós éramos muitos e representávamos naquele momento uma boa porcentagem do público, então não ligamos pra isso. Fomos uns dos primeiros a começar a dançar, e a música era realmente boa! Franz Ferdinand, Interpol, The Cure, Smiths, David Bowie... Também tinham duas dançarinas que ficavam em cima de uns palquinhos. Uma delas ficava na frente de uma parede onde desenhos japoneses eram projetados. Ela era meio andrógena e dançava de um jeito estranho, usando um cabelo anos 80, um biquíni e um all star.

Em algum momento da noite, uma das minhas amigas do albergue me apresentou dois peruanos que também tinham passado três meses trabalhando no McDonald´s. Ela os tinha conhecido na fila do banheiro e chegou toda empolgada para mim: “I met some people who also hate McDonald´s!!!”. Em outro momento, um pouco antes de irmos embora, as pessoas começaram a se movimentar e combinar alguma coisa que eu não entendi direito na hora. Eu não percebi que a decisão coletiva tinha sido de subir no palco e dançar junto com a dançarina-andrógena-anos-80 até que fui puxada para cima e não tinha mais como escapar. Causamos no Rififi, e a dançarina mal se agüentava em pé de tanto rir. Depois pegamos nossos casacos e fomos embora. Foi minha noite mais divertida em Nova York.


* Foto tirada no Top of the Rock, o topo do Rockefeller Center. Essa mancha verde e amarela na esquerda superior é o Empire State Building. Cada semana ele é iluminado com cores diferentes e ele estava especialmente brasileiro durante minha estadia em NY.