domingo, 31 de agosto de 2008

Shuffle

Tenho o péssimo hábito de ouvir sempre as mesmas músicas. Das mais de mil tenho armazenadas no meu computador, devo ouvir com freqüência no máximo umas cem. Não posso definir esse comportamento de outra forma que não como pura preguiça de ouvir coisas novas. Aí enjôo de tudo e passo um tempo no silêncio. Às vezes faz bem.

Agora decidi que vou variar mais a minha playlist. O primeiro passo foi zerar meu mp3 player, enchê-lo com novas músicas e usar o modo shuffle. Engraçado, não sinto muita falta dos cds. Eles são caros, ocupam espaço e sempre estão em caixinhas trocadas. Além do mais, você pode baixá-los inteiros da internet, ver as letras e tudo mais.

Atualmente tenho no meu mp3: Aimee Mann (o último cd @#%&*! Smilers), Keren Ann, Charlotte Gainsbourg, Lilly Allen, Radiohead, The Cardigans, Vive la Fête (acho que baixei junto umas músicas folclóricas francesas reunidas num disco chamado Vive la Fête), a trilha sonora de Juno e de Before Sunset / Before Sunrise.

Não, eu não tenho um i-pod de 80 gigas e nem sei o que faria com tanto espaço. Nem incluindo toda a discografia das principais bandas do movimento punk islandês dos anos 70. Aliás uma vez li um livro do Fábio Massari que falava sobre uma viagem que ele fez para a Islândia unicamente para investigar a música do país. Estranho ler coisas tão específicas sobre músicas que nunca escutei. Não consegui baixar mais de duas músicas de bandas citadas no livro. Alguns nomes não apareciam nem no google (ok, devo estar exagerando).

É como o protagonista de Em busca do tempo perdido, que amava o teatro e dedicava todas as conversas com os colegas à discussão de qual seriam os melhores atores da época. Ele tinha na ponta da língua os nomes dos cinco melhores atores em sua opinião de quem nunca tinha ido a uma peça de teatro:

Naquela época eu tinha o amor do teatro, amor platônico, pois meus pais ainda não me haviam deixado ir, e imaginava de modo tão pouco exato os prazeres que lá se experimentavam que não estava longe de crer que cada espectador olhava, como por um estereoscópio, um cenário que era unicamente para ele,embora igual aos outros mil que se ofereciam, uma cada qual, ao resto dos espectadores.

Mas, voltando à música, fica a questão: o que ouvir? Tenho sempre uma ansiedade por conhecer todas essas bandas novas de quem os críticos de música pop falam. Mas não dá pra escutar tudo e muitas delas fazem exatamente o que as outras estão fazendo. Acho que estou sempre em busca de uma música que me faça chegar em outro lugar, que não sirva somente como fonte de distração enquanto limpo a casa ou abro o e-mail (embora esse tipo de música também seja importante), mas que demande atenção exclusiva e que confira certa grandeza àquele momento. Ultimamente, tem sido difícil achar essa qualidade nas músicas que surgem. Ou talvez eu esteja pouco receptiva a elas no momento.


* Este post foi escrito ao som de: Aimee Mann – 31 Today

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Subtítulos


Depois de falar mal das traduções de nomes de filmes, me sinto no dever de chamar a atenção das pessoas para os subtítulos dos filmes – sejam eles da versão original ou exclusivos da versão brasileira.

Um deles me trouxe problemas na última vez que fui alugar um filme. Com a intenção de alugar Hannibal, aluguei Hannibal – a origem do mal. Não foi minha culpa, o subtítulo estava escrito em letras minúsculas e eu só fui perceber o equívoco quando o filme tinha terminado. Ele está, sem medo de errar, entre os dez piores filmes que eu já vi em toda a minha vida. Vale a pena assistir só para dar valor aos outros filmes.

Tenho que reconhecer que às vezes escolhem um subtítulo estiloso, que dá até um charme, tipo Alien – O oitavo passageiro. Mas outros são de doer. Geralmente tentam explicar ou mostrar alguma coisa a mais sobre o filme, mas, na maioria das vezes, eles acabam sendo óbvios demais ou não combinam em nada com a proposta.

Pulp Fiction – Tempo de violência. Pulp Fiction era o título perfeito! Aí acrescentaram Tempo de violência, que é sério demais para um filme que não se leva a sério; chega a ser um pouco moralista.

2046 – Os segredos do amor. Vocês já viram esse filme? Se eu fosse responsável pelo lançamento no Brasil, não me arriscaria a acrescentar nada ao título, simplesmente porque não entendi a história direito. Esse subtítulo pode levar algum romântico desavisado ao cinema. Pensando bem, talvez seja exatamente essa a intenção.

Eurotrip – Passaporte para a confusão. Parece nome de filme da sessão da tarde
, mas essa é uma das melhores comédias teen que eu já vi. O hit Scotty doesn’t know virou um clássico.

Spellbound – Quando fala o coração. Pensando bem, 80% dos filmes poderiam ter esse subtítulo. Titanic – Quando fala o coração, O Guarda-costas – Quando fala o coração, Star Wars – Quando fala o coração, Rocky Balboa – Quando fala o coração... Mas não se deixe enganar: Spellbound é um filme do Hitchcock de 1945 que, apesar de não ser muito comentado, é um dos meus preferidos. Ele tem uma seqüência de sonho idealizada por ninguém menos que Salvador Dali.

Alguns subtítulos bregas entram em perfeita harmonia com o filme. É o caso de Ghost – Do outro lado da vida e Moulin Rouge – Amor em vermelho. Portanto, não tenho nada a dizer a respeito deles.

Porcos e diamantes são dois substantivos bem improváveis de se usar na mesma frase, mas até que ficou legal como subtítulo de Snatch – Porcos e diamantes. Outros exemplos de subtítulos desnecessários: Trainspotting – Sem limites, Seven – Os sete crimes capitais e Closer – Perto demais.

Ainda sobre traduções
Philip Roth, escritor estadunidense, declarou em entrevista para a Folha de S.Paulo ser admirador de Machado de Assis e, principalmente, de Memórias Póstumas de Brás Cubas que foi lançado lá como Epitaph of a small winner (ou seja, “epitáfio para um pequeno vencedor”). Sobre a tradução do título, ele declara: “Eu não sei de onde vem isso, mas é idiota, deve ser um nome de puro marketing”. Só para lembrar que existem traduções ruins em todo lugar.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

3x4


É horrível, mas, de vez em quando, todo mundo precisa tirar fotos 3x4. E elas ficam cada vez piores... Na minha modesta opinião, o surgimento da fotografia digital permitiu que pessoas sem a mínima qualificação oferecessem serviços desse tipo, fotografando em estabelecimentos que não tem nem mesmo uma iluminação adequada.

Mas não tem problema. Agora, o photoshop resolve tudo. Hoje fui tirar as temidas 3x4 e, ao ver o resultado no computador, perguntei (brincando!) se o rapaz que me atendeu não poderia apagar as minhas espinhas. Ao que ele respondeu – “Pois não” – e começou a fazer o serviço sujo no photoshop.

Não sabia que esse procedimento era assim tão corriqueiro. Se até a minha reles 3x4 recebeu esse tratamento, imagine as barbaridades que eles fazem nas revistas! De alguma maneira, sinto que as minhas fotos 3x4 nunca mais serão as mesmas. Ou será que esse processo é reversível?

* Na foto, uma amostra da minha coleção de fotos 3x4



quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Lynch vem a São Paulo


Semana passada o David Lynch esteve em São Paulo para promover o lançamento de seu livro sobre a importância da meditação em sua vida. Falando assim, ele fica parecendo mais um oportunista que escreve um livro de auto-ajuda qualquer só para ganhar dinheiro em cima de pessoas inseguras. Mas, apesar de não ter lido o livro, acho que não é o caso: é o David Lynch.

Fiquei muito decepcionada quando descobri que não poderia conhecê-lo pessoalmente, já que ele esteve na Livraria Cultura bem no meio da tarde, horário em que estava trabalhando. Mas resolvi fazer uma homenagem mental a ele, recapitulando todos os seus filmes a que já assisti. E, para a minha surpresa, só assisti a três deles: Veludo azul, Cidade dos sonhos e Twin Peaks – Os últimos dias de Laura Palmer, nesta ordem exatamente.

Os dois primeiros me marcaram bastante, acho que é por isso que tinha a impressão de conhecer toda a filmografia de David Lynch. Cidade dos sonhos eu vi na faculdade, na disciplina de Lógica (ironicamente). Não entendi nada da história a princípio... Mesmo assim, o filme me prendeu do começo ao fim. É um daqueles filmes em que você não tem idéia do que vem em seguida e que, quando termina, você fica perplexo por alguns minutos vendo os créditos subirem sem saber muito bem o que fazer. E, dias depois, você ainda se pega pensando nele, tentando decifrar o que significou aquilo tudo.

Veludo azul não é menos intrigante. Numa das primeiras cenas, o protagonista encontra uma orelha humana no chão de um terreno baldio por onde passa para cortar caminho. A partir daí ele se envolve numa investigação que vai levá-lo a presenciar situações bizarras e inimagináveis.

Devo aproveitar o assunto David Lynch para falar sobre um assunto que sempre me incomodou bastante: traduções de nomes de filmes. Observe os nomes, em português, de dois grandes filmes do diretor: Cidade dos sonhos e Império dos sonhos (os originais são, respectivamente, Mulholand Dr. e Inland Empire). Aposto que o David não ficou sabendo dessa calamidade. No caso de Cidade dos sonhos, o “sonho” do título adianta ao expectador um aspecto do filme que deveria ser conhecido apenas no decorrer da história, ou seja, o próprio título é um spoiler.

Semana passada, assisti a Medos privados em lugares públicos, cujo título no original em francês é Coeurs. Quem são essas pessoas que tem o direito de usar toda a criatividade para traduzir esses nomes sem a mínima consideração pelo título original nem pelo enredo do filme?

Mais um caso emblemático. O filme Asas do desejo, do Wim Wenders, no original é Der Himmel über Berlin (que significa “o céu sobre Berlim”). Depois, Wim Wender fez um filme chamado Lisbon Story, que foi traduzido como – adivinhem! – O céu de Lisboa, acho que pra compensar o outro céu que eles não tinham mencionado.

E eu poderia continuar citando títulos mal traduzidos, exemplos não faltam... Deixo aqui meu pequeno protesto.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Monsieur Proust


Ontem recomecei a ler No caminho de Swann, o primeiro volume de Em busca do tempo perdido. Eu tinha lido uma página há algumas semanas e, na minha cabeça, confundi esse trecho com o começo de um outro livro que li na Livraria Cultura sobre a vida de Marcel Proust, escrito pela governanta que o acompanhou durante sua vida inteira.

Quando comecei a ler de novo, a história que eu li era diferente daquela que eu esperava retomar. Mas não decepcionou de maneira alguma. Acho até que a minha hesitação em ler o livro se devia à lembrança de um Proust angustiado tentando terminar um texto no prazo, que foi o que eu li no outro.

No caminho de Swann começa com a descrição de um estado intermediário entre o sono e a consciência que acomete o narrador toda vez que ele acorda no meio da noite e não sabe dizer em que quarto está dormindo, entre todos os quartos onde ele já dormiu ao longo da vida.

Influência do livro ou não, acordei no meio da noite e tive meus cinco segundos de desorientação no qual fiquei imaginando, como o personagem, os móveis em volta da minha cama deslizarem assumindo a posição que eles tiveram nos quartos que já conheci.

Em outra ocasião, já tive uma experiência em que fui influenciada por uma história em quadrinhos que lia antes de dormir. Na história, o personagem principal passa a sonhar com o mundo imaginário formado por seus próprios brinquedos que ele criou na infância e abandonou quando deixou de ser criança.

Esse universo abandonado durante tantos anos passou a ser palco de uma guerra horripilante entre os brinquedos. E é essa situação que ele presencia em seus sonhos e que começa a interferir em sua vida real. Em determinado ponto da história, ele não sabe mais quando está sonhando ou quando está acordado. Parece bobo, mas é perturbador.

Depois de começar a ler esse livro, acordei logo depois de cair no sono e olhei tudo ao meu redor com muita desconfiança, achando que eu própria era o personagem que tem o sono e a vida atormentados pelos brinquedos que abandonou.

Voltando ao caminho de Swann, quando terminar de ler, escrevo minhas impressões sobre ele.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Coloque o livro de volta na prateleira


No último post mencionei o Belle & Sebastian, que é uma das minhas bandas preferidas. Por que gosto de B&S? Porque consigo me identificar absurdamente com as letras das músicas? Porque elas fazem com que eu não me sinta tão mal por me sentir de determinada forma? Por causa das melodias bonitinhas que fazem uma estranha harmonia com as letras melancólicas? Porque a voz do Stuart Murdoch remete a uma pureza que a maioria das pessoas já perdeu?

Por todos esses motivos, talvez. Mas me lembrei do Belle & Sebastian hoje porque ganhei de aniversário um livro em que vários artistas interpretam músicas da banda no formato de histórias em quadrinhos. Put the book back on the shelf é o nome da música que inspira o título do livro.

Algumas letras são reproduzidas integralmente, outras histórias não mencionam nenhum verso, apenas o enredo e os personagens das músicas. O livro é lindo, mas esse formato – cada música é uma história – impede o que poderia ser uma grande narrativa envolvendo personagens recorrentes nas letras da banda.

Lisa, por exemplo. A letra de She’s losing it não fala muito sobre ela, mas sobre Chelsea, a garota com quem ela tem, possivelmente, uma experiência homossexual: Who needs boys when there’s Lisa around?. Já em Like Dylan in the movies, ela parece ter superado aquela fase: Lisa’s kissing men like a long walk home. Em The model, Lisa tenta fechar os olhos para o fato de ela ter sido uma menina má e encontra alguém que faz a mesma coisa:


Cause Lisa learned a lot from putting on a blindfold
When she knew she had been bad
She met another blind kid at a fancy dress
It was the best sex she ever had

Finalmente, em Beautiful, Lisa é uma garota consumida de maneira quase irreversível pelo tédio. Mas ninguém tem idéia do que está acontecendo na vida dela, ninguém sabe que ela tem problemas porque ela é linda e parece uma rainha – They let Lisa go blind, she’s looking like a queen but if you knew what´s going on in her life...

O que terá acontecido com Lisa? Gostaria de ler a história dela. Outros personagens recorrentes são Anthony e Judy, mas conto a história deles em outro post.

Em tempo: Belle & Sebastian não é uma dupla composta por pessoas chamadas Belle e Sebastian (como eu mesma achava no começo).