domingo, 10 de maio de 2009

Histórias fantásticas




Se tivesse que descrever Adolfo Bioy Casares em uma frase, diria que ele é o autor de frases que gostaríamos de ter dito antes.

Foi em pouco tempo que comecei e terminei de ler o livro Histórias Fantásticas, de Adolfo Bioy Casares, escritor argentino contemporâneo de Jorge Luis Borges. Como o título bem sugere, seu autor se insere no contexto do realismo fantástico, movimento literário latino-americano que se desenvolveu ao longo do século XX. Gabriel Garcia Márquez, talvez o principal expoente desse movimento, é um dos meus escritores preferidos.

Na literatura, tudo aquilo que é fantástico, misterioso, digno de espanto e curiosidade exerce sobre mim uma atração irresistível. Quando a Cia das Letras publicou os Contos fantásticos do século XIX escolhidos por Ítalo Calvino, logo quis comprar o livro, que acabei ganhando em seguida. Ele reúne autores como Walter Scott, Balzac, Gogol, Edgar Allan Poe, Charles Dickens e Turguêniev.

Enquanto o fantástico retratado nas obras do século XIX é povoado de demônios, feras, fadas, gênios, mortos que voltam à vida e seres de outro mundo, o fantástico do século XX enfatiza as nuances mágicas e surreais de nosso próprio cotidiano.

As histórias de Casares refletem o fato de que a vida – mesmo a “vida real” – às vezes não faz o menor sentido. Sendo assim, para que se preocupar com as regras limitadoras da lógica e da verossimilhança? E é em meio a essa atmosfera impossível que Casares consegue revelar as verdades mais cruas sobre a natureza humana.

Um recurso que aparece em alguns contos é o narrador contar uma história que ele ouviu de outro personagem ou mesmo reproduzir o que esse segundo personagem escreveu. Talvez seja uma maneira de haver um comprometimento ainda menor com a realidade.

Folheando o livro, que terminei de ler já faz alguns meses, percebo que as histórias gravaram imagens tão nítidas em minha memória que é como se eu tivesse sonhado com cada uma delas: um avião que transporta o piloto de testes para uma realidade paralela onde não teriam existido os galeses; um fazendeiro que consegue fazer o tempo estacionar para evitar a morte da filha; um poeta que se apaixona por uma jovem cujo marido tem a peculiar estatutura de meio palmo; o começo do fim do mundo anunciado pelo apodrecimento do mar...