domingo, 21 de novembro de 2010

Lugares estranhos e quietos


Wim Wenders gosta de viajar. A possibilidade de conhecer novos lugares e os simples ato de ler nomes de vilarejos, de cidades ou de acidentes geográficos no mapa já o deixa muito animado. Ele gosta de lugares, enfim – é o que deixa claro no texto de abertura da exposição de fotografias Lugares, estranhos e quietos, em exibição no Masp.

Mas, em seu método próprio de explorar o mundo, ele não segue a lógica da maioria. Enquanto, em uma esquina qualquer, as pessoas comuns escolhem virar à direita porque lá vão encontrar coisas interessantes, Wim Wenders vira à esquerda justamente porque lá não tem nada.

É assim que ele fotografa lugares esquecidos e desolados, ignorados por quase todos. Ele nos apresenta um playground na areia, onde um coqueiro de concreto se ergue ao lado de um brinquedo de balanço em um dia nublado. Uma parede com uma pia. Uma roda gigante enferrujada que entrou em desuso. Turbinas industriais – quem sabe para que servem – no alto de um prédio.

Como eu fiquei feliz de ver essas imagens, apesar da melancolia que elas inspiram. Feliz de saber que alguém olha o mundo de um jeito menos óbvio. Sem lindas paisagens e pontos turísticos. Sem grandes sacadas e tentativas de capturar o instante decisivo à la Cartier-Bresson.

Vamos encarar os fatos: ninguém vai chegar lá, por mais que se tente e se fique por horas fotografando menininhos brincando de peão em um chão de terra, ou seja lá qual for a “cena da vida” escolhida pelo fotógrafo. Nestes dias de imagens banalizadas, eu conclamo: peguem suas câmeras semi-profissionais e apontem para algum lugar que valha a pena. É de lugares estranhos e quietos que o mundo é feito.