sábado, 6 de setembro de 2008

Aula de francês


Na minha segunda aula de francês do semestre, cheguei superatrasada. Já tinham grupos formados que deveriam discutir alguns temas propostos pela professora. Sentei com o grupo que tinha ficado com o tema “a televisão deixa as pessoas burras”, ou algo assim. Como todos pareciam concordar com a afirmação, eu me propus a defender a televisão. Achei que assim estaria cumprindo meu papel de única estudante de jornalismo do grupo.

Não estava conseguindo raciocinar direito depois de passar os últimos 40 minutos dentro de um ônibus lotado que peguei depois de oito horas de trabalho na assessoria de imprensa de uma universidade cujo reitor tinha acabado de renunciar no dia anterior por causa de denúncias de gastos ilícitos no cartão corporativo.

Mas, vamos lá, vamos defender o potencial sócio-educativo da televisão, vamos defender que pode existir um jornalismo de qualidade na televisão brasileira, vamos provar que a televisão, apesar dos seus defeitos, pode ser um instrumento que unifica a nação e que isso é uma coisa boa.

E quando tudo o que eu falava era recebido com ceticismo pelo grupo, o estudante do primeiro ano de história começa a descrever a única televisão que presta no mundo, que é a da Suíça, onde a “população escolhe a programação a que quer assistir”. Muito democrático. E o melhor de tudo é que tem tudo a ver com a realidade brasileira. Vamos sugerir para o Sílvio Santos.

Então eu me pego defendendo que a televisão é uma fonte de entretenimento válida para muita gente. As novelas, por exemplo: não é porque somos universitários esnobes e inteligentes demais para acompanhar a novela que vamos negar que ela traz à tona assuntos de importância social sobre os quais algumas pessoas não parariam para refletir de outra forma.

Eu, que nem vejo TV direito, comecei a me exaltar em sua defesa enquanto o resto do grupo insistia em ignorar sua relevância para o povão. E o estudante de psicologia assistia a tudo em silêncio com uma expressão de triunfo esquisita no rosto, como quem nomeia mentalmente os complexos dos outros. Da próxima vez, faço grupo com os meninos da Poli.

O tema jornalismo, pelo jeito, vai ser recorrente durante o semestre do francês e em todos esses mini-debates vão esperar que eu tenha alguma coisa a mais para falar só porque faço jornalismo.
Por fim, quando a aula estava um saco e todas as minhas articulações doíam mais do que o normal (porque tinha feito aula de body combat no dia anterior), um morcego entrou e saiu da sala de aula duas vezes e aquilo foi a única coisa engraçada que aconteceu naquelas duas horas e meia.

Um comentário:

Daniel Médici disse...

A história é triste, mas esse desenho é fantástico pra ilustrar o post! onde vc conseguiu ele?