quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Lynch vem a São Paulo


Semana passada o David Lynch esteve em São Paulo para promover o lançamento de seu livro sobre a importância da meditação em sua vida. Falando assim, ele fica parecendo mais um oportunista que escreve um livro de auto-ajuda qualquer só para ganhar dinheiro em cima de pessoas inseguras. Mas, apesar de não ter lido o livro, acho que não é o caso: é o David Lynch.

Fiquei muito decepcionada quando descobri que não poderia conhecê-lo pessoalmente, já que ele esteve na Livraria Cultura bem no meio da tarde, horário em que estava trabalhando. Mas resolvi fazer uma homenagem mental a ele, recapitulando todos os seus filmes a que já assisti. E, para a minha surpresa, só assisti a três deles: Veludo azul, Cidade dos sonhos e Twin Peaks – Os últimos dias de Laura Palmer, nesta ordem exatamente.

Os dois primeiros me marcaram bastante, acho que é por isso que tinha a impressão de conhecer toda a filmografia de David Lynch. Cidade dos sonhos eu vi na faculdade, na disciplina de Lógica (ironicamente). Não entendi nada da história a princípio... Mesmo assim, o filme me prendeu do começo ao fim. É um daqueles filmes em que você não tem idéia do que vem em seguida e que, quando termina, você fica perplexo por alguns minutos vendo os créditos subirem sem saber muito bem o que fazer. E, dias depois, você ainda se pega pensando nele, tentando decifrar o que significou aquilo tudo.

Veludo azul não é menos intrigante. Numa das primeiras cenas, o protagonista encontra uma orelha humana no chão de um terreno baldio por onde passa para cortar caminho. A partir daí ele se envolve numa investigação que vai levá-lo a presenciar situações bizarras e inimagináveis.

Devo aproveitar o assunto David Lynch para falar sobre um assunto que sempre me incomodou bastante: traduções de nomes de filmes. Observe os nomes, em português, de dois grandes filmes do diretor: Cidade dos sonhos e Império dos sonhos (os originais são, respectivamente, Mulholand Dr. e Inland Empire). Aposto que o David não ficou sabendo dessa calamidade. No caso de Cidade dos sonhos, o “sonho” do título adianta ao expectador um aspecto do filme que deveria ser conhecido apenas no decorrer da história, ou seja, o próprio título é um spoiler.

Semana passada, assisti a Medos privados em lugares públicos, cujo título no original em francês é Coeurs. Quem são essas pessoas que tem o direito de usar toda a criatividade para traduzir esses nomes sem a mínima consideração pelo título original nem pelo enredo do filme?

Mais um caso emblemático. O filme Asas do desejo, do Wim Wenders, no original é Der Himmel über Berlin (que significa “o céu sobre Berlim”). Depois, Wim Wender fez um filme chamado Lisbon Story, que foi traduzido como – adivinhem! – O céu de Lisboa, acho que pra compensar o outro céu que eles não tinham mencionado.

E eu poderia continuar citando títulos mal traduzidos, exemplos não faltam... Deixo aqui meu pequeno protesto.

3 comentários:

Unknown disse...

Mari, queria muito ter visto o David Lynch também. Imagino que ele seja bem bizarro na vida real (normal ele não deve ser rsrs), mas não deixo de achá-lo genial. Figura e tanto.

Ana disse...

Mariana,
Particularmente, não gosto de filmes auto-explicativos.
A arte é assim, algo que nos faça pensar, pensar e pensar...
E isto, que é muito bom!
Sejam filmes, quadros, livros, peças, amigos... parentes ou serpentes que nos acrescente algo, serão sempre benvindos!
De resto, descartamos.

Daniel Médici disse...

No caso de Asas do Desejo, não coloque a culpa na conta dos tradutores brasileiros, pelo menos não toda a culpa.

Ele foi traduzido para o inglês como Wings of Desire...