quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Monsieur Proust


Ontem recomecei a ler No caminho de Swann, o primeiro volume de Em busca do tempo perdido. Eu tinha lido uma página há algumas semanas e, na minha cabeça, confundi esse trecho com o começo de um outro livro que li na Livraria Cultura sobre a vida de Marcel Proust, escrito pela governanta que o acompanhou durante sua vida inteira.

Quando comecei a ler de novo, a história que eu li era diferente daquela que eu esperava retomar. Mas não decepcionou de maneira alguma. Acho até que a minha hesitação em ler o livro se devia à lembrança de um Proust angustiado tentando terminar um texto no prazo, que foi o que eu li no outro.

No caminho de Swann começa com a descrição de um estado intermediário entre o sono e a consciência que acomete o narrador toda vez que ele acorda no meio da noite e não sabe dizer em que quarto está dormindo, entre todos os quartos onde ele já dormiu ao longo da vida.

Influência do livro ou não, acordei no meio da noite e tive meus cinco segundos de desorientação no qual fiquei imaginando, como o personagem, os móveis em volta da minha cama deslizarem assumindo a posição que eles tiveram nos quartos que já conheci.

Em outra ocasião, já tive uma experiência em que fui influenciada por uma história em quadrinhos que lia antes de dormir. Na história, o personagem principal passa a sonhar com o mundo imaginário formado por seus próprios brinquedos que ele criou na infância e abandonou quando deixou de ser criança.

Esse universo abandonado durante tantos anos passou a ser palco de uma guerra horripilante entre os brinquedos. E é essa situação que ele presencia em seus sonhos e que começa a interferir em sua vida real. Em determinado ponto da história, ele não sabe mais quando está sonhando ou quando está acordado. Parece bobo, mas é perturbador.

Depois de começar a ler esse livro, acordei logo depois de cair no sono e olhei tudo ao meu redor com muita desconfiança, achando que eu própria era o personagem que tem o sono e a vida atormentados pelos brinquedos que abandonou.

Voltando ao caminho de Swann, quando terminar de ler, escrevo minhas impressões sobre ele.

4 comentários:

Daniel Médici disse...

A última coisa que eu pensaria é que No Caminho de Swann foi escrito apressadamente para ser entregue no prazo...

Adorei seu post; talvez os próximos passos do livro não causem tanta identificação, mas mesmo assim eles são geniais.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Essas histórias de acordar confuso no meio da noite me lembram o sonâmbulo que divide o quarto comigo...

Ana disse...

Mariana, gostei muito de ler isto.
Falar de sentimentos, nem sempre compreensíveis... não é algo fácil.
Sonâmbula que sou, quase sempre não compreendo os lugares em q estou! Vc é genial!